Gregório José
Se tem uma coisa que brasileiro entende melhor do que café coado é a arte de se virar sem dinheiro. E agora, segundo os dados da Superlógica – nome que parece de herói da Marvel, mas só serve pra mostrar que tá todo mundo pendurado no fiado – a inadimplência no aluguel subiu como elevador de prédio rico: direto pro topo. Só que com a gente dentro e sem ar-condicionado.
Na Região Norte, por exemplo, o povo não paga nem promessa: inadimplência chegou a 4,77%. No Nordeste, 4,68%. O que isso quer dizer? Que as famílias por lá tão tão enroladas que já não sabem se choram por falta de grana ou por falta de pix. A situação tá tão feia que se o nome do morador for Carlos da Silva, o do boleto virou Carlos da Dívida.
Mas calma, que a elite também tem sua cota de vexame. Quem mora em apê de mais de R$ 13 mil de aluguel – isso mesmo, treze mil reais! – é quem mais deve! 6,25% estão devendo! Quer dizer: o sujeito mora no Leblon, mas a conta tá lá no SPC. Dorme em travesseiro de pena, mas acorda com dor de cabeça porque o aluguel virou sonho – e dos ruins.
Já nos imóveis comerciais, a maior inadimplência é nos alugueis de até R$ 1.000,00. A lógica é clara: quem tá começando não tem dinheiro nem pra placa de “Aluga-se”, quanto mais pro aluguel. No Brasil, abrir uma loja é igual entrar num casamento com sogra contra: você sabe que vai dar errado, só não sabe quando.
E no Sul, meus amigos, estão os melhores pagadores. Inadimplência de 2,70%. Que inveja, hein? O cara lá toma chimarrão, paga em dia, e ainda sobra pra comprar lenha pro inverno. Aqui no Sudeste, até apartamento anda devendo: 2,16%. Ou seja, o imóvel é mais responsável que o inquilino.
Mas o que Manoel Gonçalves, da Superlógica, disse é real: com a inflação rondando, o juro subindo e o feijão custando o preço de um iPhone, a dívida virou um parente: mora com você, te atrasa a vida e ainda faz cara de coitado.
No fim das contas, o Brasil virou o país da parcela. É boleto, carnê, financiamento, Pix agendado, cartão parcelado em doze vezes – e o aluguel… bem, o aluguel entra na fila, atrás do leite, do gás e do antidepressivo.
A Superlógica deveria mudar de nome. Porque de lógica esse país não tem nada. Aqui, quem paga em dia é suspeito. E quem atrasa é normal. Porque, no Brasil, só tem duas certezas: ou você tá devendo, ou tá quase.
Sobre o Índice Superlógica
O Índice de Inadimplência Locatícia da Superlógica é um levantamento mensal de dados exclusivos e internos que apresenta o cenário de dívidas do mercado brasileiro de locação imobiliária. O índice leva em consideração o valor do boleto, o tipo de imóvel (apartamento, casa ou comercial) e a sua localização, além das datas de vencimento e pagamento, que mostram se há inadimplência ou não. Esta edição do estudo contou com dados de mais de 900 mil clientes locatários em todo o Brasil, sendo considerados inadimplentes aqueles que possuem boletos que estão há mais de 60 dias sem pagamento ou que foram pagos com atraso de mais de 60 dias. Todos os dados são anonimizados, não sendo passíveis de associação a um indivíduo, direta ou indiretamente.
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Gregório José, jornalista, radialista e filósofo