Américas – De bike por 2 anos e 30 mil quilômetros

O roteiro de bicicletas pelas Américas – foto: Divulgação

Por Edson Lopes de Campos – 

Enquanto para a maioria que chega a idade sexagenária pensa em descansar, para Luís Milner foi o contrário. Foi o ponto de partida para a realização de um sonho antigo: pedalar pelo mundo… e é isso o que ele está fazendo durante os últimos dois anos e 30 mil quilômetros percorridos de bicicleta.

Engenheiro agrônomo produtor de frutas vermelhas, em 2014 Luís perdeu toda a produção e não conseguiu honrar o financiamento. “Foram oito anos lutando e em 2022 eu acertei tudo e falei pra minha companheira: ‘Quero sair por dois anos e realizar um sonho’”, lembra Luís.

“Sai de Piracicaba com o intuito de pedalar por dois anos, no dia 1º de julho de 2023 e fui subindo. Cruzei o país em direção ao norte do Brasil. Passei por Minas, Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e o Amapá. Saí do Brasil pelo Oiapoque para Guiana Francesa e fui subindo, Suriname, Guiana Inglesa, Trindade e Tobago, Venezuela, Colômbia. E cruzei toda a América Central: Panamá, Costa Rica, Nicaragua, Honduras, Guatemala, El Salvador, Belize e México. Chegando em Cancun, no México se eu continuasse subindo eu chegaria nos Estados Unidos no inverno, então eu inverti. Eu peguei um voo de Cancun para Vancouver, no Canadá. Pedalei um mês e meio no Canadá e então eu cruzei os Estados Unidos de bicicleta e eu voltei até a Cidade do México”, conta Luís sobre o roteiro insano.

“Eu fumei por 20 anos, então quando tinha 40 anos não sentia com tanto vigor físico como hoje. No início da viagem não conseguia andar 30 quilômetros por dia e hoje faço 100 km. Fui ganhando o condicionamento físico no caminho”, revela.

Para uma viagem desse tamanho, Luís contou com o conforto da companheira em alguns momentos do trajeto.

“Minha companheira Ana Lucia se encontrou comigo em algumas vezes durante esse percurso, como Trindad & Tobago, Guatemala e Bariloche, de onde desci até onde termina o continente”, conta.

Até agora foram 27 mil quilômetros pedalados e 30 mil devem ser completos até sua volta a Piracicaba. “Devo entrar por Foz do Iguaçu e vou encerrar a viajem com 20 países, 2 anos e 30 mil km pedalados”.

Manutenção da bicicleta e lugares improvisados para passar a noite

Mas a aventura não é feita apenas de belas paisagens, foram vários momentos de solidão e reflexão.

“A viagem é muito pra dentro, de crescimento pessoal. Eu queria enfrentar a solidão, conhecer o mundo, queria realizar esse sonho. Conheci muita gente no caminho, aprendi a valorizar coisas que não valorizava, um litro de água, aprendi a dormir em condições simples, a cozinhar. Enfrentei várias dificuldades no início. No sul eu tive muito frio. Na Venezuela eu peguei dengue, 5 dias com febre. Na América Central muito calor e umidade”.

Animais selvagens também cruzaram o caminho do ciclista. “No Canadá tomei um susto muito grande com um urso preto, Black Bear. Acampado na floresta saí cedinho e tinha um urso bem perto. Na Patagonia, condições climáticas muito difíceis. Acordamos um dia com pegadas de um puma adulto que passou perto de nossa barraca”, conta Luis, que conseguiu superar seus medos ao longo do caminho.

“Tive que cruzar pontes altas no Canadá, Suriname, EUA. Tive que superar o medo de altura, tomar a decisão de enfrentar. Em diversos momentos fiquei completamente só. Praias desertas na Costa Rica, na Nicarágua, bosques no Canadá. Eu precisava disso e vários momentos compartilhei com outros viajantes”.

Apesar da Patagônia e Chile serem conhecidos pelo turismo de bicicleta, Luis aponta que não encontrou viajantes sexagenários. “Na Patagonia existe um turismo de bike, ciclo-viajantes. Existe um turismo grande de bicicleta com muitos jovens europeus. Com 60 anos resolvi sair e é difícil acontecer isso, não encontrei ninguém na minha situação”, aponta.

Em uma última conversa com Luíz na manhã de sexta-feira, 23, Milner estava no Paraguai, o 20º país percorrido, a caminho da cidade de Piracicaba.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima