Érico San Juan
O carro abriu, dele saiu um livro. “É seu!” Não, o carro não abriu sozinho. O livro não veio às minhas mãos por ele mesmo. Veículo e obra são de um dos caricaturistas-raiz do Brasil. O livro é Fernandes em preto e branco. O autor é o sobrenome já presente no título.
É chover no molhado dizer da brilhante carreira deste pai, marido e avô, escultor e ilustrador, dono de inúmeros prêmios em concursos de humor gráfico nacionais e mundiais. Tanto quanto usar a expressão “chover no molhado”, vinda de tempos jurássicos da nossa língua.
Mas antes de evitar outra expressão exaustivamente utilizada – brincadeiras à parte – o convite está feito para que você leia o próximo parágrafo.
Luiz Carlos Fernandes cedeu às simpáticas pressões de meio mundo – ou de amigos do mundo inteiro – e aceitou o desafio de se autoeditar. Abriu uma campanha de financiamento coletivo, com direito a caricaturas como recompensas do livro da campanha. Como se a própria obra não fosse uma recompensa.
Com a meta mais que cumprida – mas não comprida, a campanha foi breve – o livro saiu da gráfica para entrar na história. A história da caricatura universal.
Fernandes em branco e preto traz a produção de caricaturas do autor em diversas técnicas. A fluência do desenhista sugere um artista ao mesmo tempo maduro e moleque. Contraditório? Jamais. Os estilistas do exagero tem no DNA aquele sorriso maroto que o público nota de cara. Ou melhor, na cara dos retratados com molecagem.
As páginas do álbum mostram figuras de um mundo em que figuras como Elis Regina, Nelson Mandela, Grande Otelo e Miles Davis permaneciam nos corações o tempo suficiente para se transmutarem em eternos. Status garantido e reforçado por Fernandes, no seu repertório iconográfico.
Imagens valem mais que mil palavras? Pode ser, tanto quanto é verdade que acabei de cometer mais um surrado clichê. Mas as palavras acima são importantes para que você, leitor destas maldigitadas linhas, procure o autor nas redes sociais e solicite um exemplar de Fernandes em branco e preto. Uma obra exemplar.
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Érico San Juan é cartunista, designer e radialista, autor da tirinha Dito, o bendito, editor do jornal de humor Capiau em A Tribuna Piracicabana e apresentador do Ilustre Podcast na TV Metropolitana de Piracicaba