Jesus realmente amaldiçoou uma figueira por não ter produzido frutos?

Alvaro Vargas

Na leitura dos Evangelhos, temos de considerar que Jesus não escreveu coisa alguma. Os seus conteúdos contêm relatos dos seus apóstolos, sendo modificados ao longo do tempo. O episódio conhecido como a figueira “amaldiçoada” por Jesus, está citado nos Evangelhos de Mateus (21:18-21) e de Marcos (11: 12-14): “Jesus havia saído de Betânia e teve fome. E tendo visto ao longe uma figueira, foi lá a ver se acharia nela, alguma coisa; e quando chegou, nada nela encontrou, senão folhas, porque não era tempo de figos. E falando-lhe, disse: Nunca jamais coma alguém frutos de ti para sempre. E no outro dia, pela manhã, ao passarem pela figueira, viram que ela estava seca até as raízes. Então, lembrando, Pedro disse para Jesus: Olha, Mestre, como secou a figueira que tu amaldiçoaste”. O Espiritismo sempre faz uma análise racional das citações bíblicas, tanto no seu aspecto literal como espiritual, considerando os fatos à luz dos avanços científicos. Nesse caso, uma simples análise desses versículos refuta a hipótese de sua veracidade. Não faria sentido Jesus secar uma figueira apenas por não ter frutos, uma vez que, conforme o relato, não era a época da frutificação. Além disto, carece de lógica considerar o Mestre Nazareno capaz de rogar uma maldição contra quem quer seja ou mesmo uma árvore.

Provavelmente, Jesus contou uma parábola (uma estória contendo um ensinamento de fundo moral), que por alguma razão surgiu nos Evangelhos como se fosse a descrição de um fato real. Na sua análise, Allan Kardec (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 19, itens 8 e 9), considera que “a figueira seca é o símbolo das pessoas que apenas aparentam o bem, mas na realidade nada produzem de bom: dos oradores que possuem mais brilho do que solidez, dotados do verniz das palavras de maneira que estas agradam aos ouvidos; mas quando as analisamos, nada revelam de substancial para o coração; e quando as acabamos de ouvir, perguntamos que proveito tivemos”. Sabemos que Jesus quando deseja fixar um ensinamento, se utilizava de várias parábolas com o mesmo objetivo. Esse parece o caso, quando ele cita que “toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons”. (Mateus 7:17-18). Uma clara referência ao comportamento dos indivíduos, diferenciando os que são bons, daqueles que apenas possuem esta aparência, mas nada de útil produzem.

Portanto, a explicação mais plausível para a existência desses versículos na Bíblia, é que de forma proposital ou não, uma parábola foi descrita como sendo um fato real. Segundo o Espírito Emmanuel (XAVIER. F. C. A Caminho da Luz, cap. 16), ocorreram adulterações nos Evangelhos. Nesse caso, talvez, o objetivo foi uma tentativa de confirmar uma suposta divindade de Jesus, que ao secar a figueira demonstrou a sua autoridade sobre a natureza. Alguns teólogos das religiões institucionalizadas cristãs, chegam, inclusive, ao absurdo de alegar que a figueira seca foi um sinal dado por Jesus sobre o fim da suposta aliança exclusiva entre Deus e os judeus. A doutrina espírita esclarece que Jesus de Nazaré é o Espírito mais evoluído intelectual e moralmente que viveu na Terra, mas não é Deus (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, questão 625). Coordenou a criação de nosso planeta (Emmanuel, obra citada, cap. 1), mas conforme mencionou: “Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Eu não vim para anular, mas para cumprir”. (Mateus, 5:17). Ele poderia, talvez, através do seu magnetismo como Espírito puro fazer secar uma figueira. Contudo, ele sempre respeitou a Torá e não veio derrogar as leis da natureza. Sua missão foi esclarecer a Humanidade, substituindo a crença no Deus colérico e vingativo por um Pai Bondoso e Misericordioso e, através dos seus ensinamentos e exemplificações, estabelecer o código da fraternidade e do amor em todos os corações.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, PhD, presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

 

 

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