Como superar as limitações nutricionais de crianças com alergias alimentares

Daniel Magnoni

A alimentação da criança está extremamente relacionada com o seu desenvolvimento físico e muscular, estatura, resistência a infecções e, já na fase intrauterina e durante os primeiros mil dias, com o desenvolvimento do sistema neuropsicomotor. Existem muitos trabalhos mostrando, inclusive, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor em crianças mal alimentadas após o nascimento.

A proteína é um dos nutrientes mais importantes para o crescimento infantojuvenil. Proteínas são macromoléculas formadas por cadeias de aminoácidos. Elas são essenciais para o funcionamento do corpo humano, desempenhando papéis cruciais na estrutura, função e regulação dos tecidos e órgãos. Entre suas funções, as proteínas são responsáveis por construir e reparar tecidos, produzir enzimas e hormônios, além de auxiliar na imunidade, transportar moléculas e equilibrar fluidos.

A alergia alimentar é uma resposta imunológica adversa a certos alimentos, como, por exemplo, a alergia à proteína do Leite de Vaca (APLV), que é uma das alergias mais comuns em bebês de até um ano. Com a escassez dos nutrientes produzidos pelo alimento de origem animal no corpo da criança, há que se buscar alternativas para estabelecer o equilíbrio nutricional com aportes adequados de nutrientes. Uma das opções que ganha cada vez mais relevância no meio científico são os alimentos produzidos à base de plantas. Conhecida como “plant-based”, essa dieta consiste em ingerir produtos naturais, sendo a melhor solução para crianças alérgicas a alimentos de origem animal.

Alguns estudos já mostram que 51% dos brasileiros apresentam predisposição para alguns tipos de intolerância à lactose, mas atualmente já sabemos que a proteína animal pode ser perfeitamente substituída por proteína vegetal. Sabemos que a escolha dessa proteína passa também pelo poder aquisitivo. Se fossem inseridos na Cesta Básica Nacional, esses alimentos poderiam ter uma redução de custos de até 40%, segundo a Associação Base Planta.

Alguns grãos como amêndoas, castanhas, feijão, ervilha e lentilha, são bons fornecedores de proteína vegetal, que tem uma importante função na formação neuropsicomotora das crianças. É importante, sob certos aspectos também, evitar a baixa atividade e a oferta de muitas calorias, principalmente vindas de carboidratos e gorduras.

Entre as alergias alimentares mais comuns em crianças, destacam-se: leite, ovos, amendoim, nozes, trigo, soja e peixes. A falta desses alimentos pode levar a várias deficiências nutricionais, especialmente se não for feita uma substituição adequada, como a troca do leite de vaca pela bebida de origem vegetal.

A substituição dos alimentos de origem animal ricos em proteínas, como carne vermelha (bovina, suína, ovina), frango e outras aves, peixes e frutos do mar, ovos e laticínios (leite, queijo, iogurte), pode ser feita por alimentos de origem vegetal que, como estes, também são ricos em proteínas: leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), soja e produtos derivados (tofu, tempeh), quinoa, sementes (chia, linhaça), nozes e castanhas e cereais integrais (amaranto, trigo-sarraceno).

Superar as limitações nutricionais em crianças com alergias alimentares é desafiador, mas existem alternativas para vencer as limitações que passam obrigatoriamente pela orientação médica, sempre baseada em ciência. As proteínas vegetais figuram como uma opção importante para substituir as proteínas animais, permitindo que as crianças recebam os nutrientes essenciais para seu desenvolvimento. Ao incorporar uma variedade de fontes vegetais à dieta e incentivar de forma contínua as boas práticas alimentares, conseguimos impulsionar um crescimento saudável e robusto do público infantil, mesmo diante de restrições alimentares.

 

Daniel Magnoni, nutrólogo, cardiologista e presidente do Instituto de Metabolismo e Nutrição

 

 

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