O pulso econômico das famílias brasileiras

Gregório José

Ao atravessarmos o calendário de 2024, o cenário econômico do Brasil apresenta sinais claros de um gradual, mas constante, processo de recuperação. Um estudo recente da IPC Maps nos revela que as famílias brasileiras deverão gastar cerca de R$ 7,3 trilhões em bens de consumo ao longo deste ano, um aumento real de 2,5% em relação a 2023. Esse crescimento, ainda que modesto quando comparado aos anos anteriores (3,1% em 2023 e 4,3% em 2022), aponta para um país que está lentamente reerguendo-se das cicatrizes deixadas pela pandemia.
É um dado que, em tempos mais recentes, poderia até ser encarado com desdém. Mas no Brasil pós-Covid, onde a economia global foi severamente golpeada, qualquer sinal de crescimento é um farol de esperança. Antes da pandemia, a economia brasileira avançava a passos lentos, com uma média de 1% ao ano. A partir de 2020, enfrentamos uma das maiores crises sanitárias e econômicas da nossa história, e a recuperação vista desde então é uma vitória em si.
A IPC Maps, com sua expertise de três décadas em monitorar o potencial de consumo do país, nos traz insights valiosos sobre onde e como esse dinheiro está sendo gasto. Um dos pontos destacados é o aumento no número de novas empresas, com quase 2 milhões de unidades abertas recentemente em setores como indústria, serviços, comércio e agronegócio. Esse dado reflete um vigor empreendedor notável, mesmo em meio a desafios econômicos consideráveis.
Um dos fatores que contribui para esse fenômeno é a escalada do home-office. Esse movimento tem impulsionado o crescimento empresarial no interior do país, que agora responde por 54,94% do mercado consumidor, em detrimento das regiões metropolitanas e capitais.
Mas nem tudo são flores no jardim econômico. As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, que devastaram municípios e afetaram milhões de pessoas, lançam uma sombra de incerteza sobre o desempenho econômico da Região Sul nos próximos meses. Essas catástrofes naturais são um lembrete sombrio de que a recuperação econômica está sempre à mercê das forças imprevisíveis da natureza.
Quando olhamos para os hábitos de consumo, é evidente que a mobilidade pessoal tem sido uma prioridade crescente. Desde o início da pandemia, a despesa com veículos próprios tem subido consistentemente, agora abocanhando 12,5% do orçamento familiar. Esse comportamento é alimentado pela demanda crescente por transportes via aplicativos e entregas, refletindo uma mudança nas necessidades e preferências dos consumidores.
Em termos de distribuição de consumo, a classe B2 continua sendo a locomotiva econômica do país, responsável por uma parte significativa dos gastos totais. Enquanto isso, a classe A, embora representando apenas uma pequena fração das famílias, tem ampliado seu impacto econômico, consumindo quase R$ 1 trilhão.
A análise regional mostra que o Sudeste ainda lidera o consumo nacional, seguido de perto pelo Sul e Nordeste. No entanto, o que mais chama a atenção é a dinâmica do consumo no interior, que continua a ganhar terreno frente às grandes metrópoles.
E, à medida que traçamos o perfil empresarial, o predomínio das microempresas individuais (MEIs) destaca a resiliência e a adaptabilidade do empreendedor brasileiro. Com mais de 14 milhões de MEIs, é claro que o espírito empreendedor está vivo e pulsante em cada canto do país. Olhando para o futuro, a resiliência e o dinamismo dos brasileiros serão, sem dúvida, as forças motrizes que continuarão a moldar e a impulsionar nosso cenário econômico.

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Gregório José, jornalista, radialista e filósofo

 

 

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