A Boyes, o Sindicato dos Bancários e o poderio imobiliário

Antonio Roberto de Godoi

Como era de se esperar, o lobby do nefasto megaempreendimento imobiliário designado Boulevard Boyes voltou com tudo; desta vez, numa linguagem paz e amor, e do bom para todos.

O lobby é legítimo; e faz parte dos negócios e das negociatas. Segundo o site politize, é a atividade de exercer pressão sobre algum poder da esfera política para influenciar na tomada de decisões do poder público em prol de alguma causa ou apoio. São agentes de convencimento e não raro, pode-se pensar, recorrem a corrupção de agentes públicos e entidades para atingirem seus objetivos.

Acrescento: em prol de benefícios próprios sem considerar outros aspectos que não os econômico-financeiros dos quais vive uma sociedade, como o bem-estar de seus cidadãos pela preservação de seus valores culturais e da sua história.

O que mais chama a atenção, é que desta vez quem deu acolhida à reunião-apresentação dos interessados e a essa macabra orquestração de querer subtrair de nossa paisagem, no ponto mais belo e encantador da orla do Rio – juntamente com o Engenho Central-, foi o antes glorioso Sindicato dos Bancários de Piracicaba. Por quê?

Ao acolher em sua sede a reunião-apresentação dos ‘lobystas’, o sindicato piracicabano perdeu a oportunidade de ficar do lado certo: o da cultura e da história de Piracicaba. Ao assinar o manifesto favoravelmente ao empreendimento nos deixa a pensar qual o interesse desse sindicato e de seus dirigentes.

Noticiado em veículo da imprensa local, o lobby desta vez foi técnico. Pretendeu-se que o fosse; mas não passou de uma conversa mole querendo formatar opinião favorável e influenciar docemente alguns representantes de entidades locais da viabilidade ambiental, da preservação arquitetônica, urbanística, de lazer e econômica para o município, e blá-blá-blá de sempre. E de dar publicidade a toda essa farsa argumentativa.

Chegou-se ao exagero de sugerir que seriam criadas de 1.500 a 2.000 vagas de empregos! Uma variação de “somente” 25% nos cálculos. Fácil assim. Com tanta precisão, faltou dizer quais as fontes dos dados que permitiram tamanho otimismo e qual a metodologia utilizada; bem como quem a elaborou.

Eta metodologia do Bem! É a mais pura, escancarada e cabal manifestação do interesse financeiro sobrepondo-se à vontade popular e ao direito da cidade preservar, incólume, o seu patrimônio cultural e histórico.

Curioso: todos os representantes das entidades nessa reunião-apresentação assinaram manifesto de apoio ao projeto Boulevard Boyes. Quem foram eles? Ignorância ou inconsciência? Ou o quê?

Nós piracicabanos ficamos a imaginar o que seria do Engenho Central se não tivesse sido preservado por meio de lei, em 1989, pelo governo progressista de José Machado (PT).

Quantas torres e quantos abastados estariam desfrutando da magnífica paisagem do nosso Rio, enquanto a orla, empobrecida, estaria assistindo à triste descaracterização do que de tão belo a natureza nos deu. José machado merece, a seu tempo, uma estátua em bronze nos recintos do Engenho. Seria justa homenagem.

Que fique a lição. O complexo da Boyes não pode e não deve ser entregue ao poderio imobiliário. Às favas vocês que assinaram manifesto a favor! Às favas os senhores que permitiram o destombamento do complexo! Prefeito: o que tem a nos dizer? Há suas digitais nisso tudo?

A História julgará todos vocês. Os senhores ainda serão vergonha para seus filhos e netos, se é que isso lhes importa. A História não os perdoará; não se iludam. Não se brinca de ganhar dinheiro com a memória de um povo, de uma cidade, de uma cultura.

O complexo Boyes é muito maior que todos esses escusos interesses juntos. Num texto futuro, relacionarei neste espaço todos aqueles que estão a favor desse danoso empreendimento à nossa memória cultural: políticos, entidades e pessoas com interesses inconfessáveis, pode-se pensar. E os omissos também. Alô vereadores, algo a dizer?

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Antonio Roberto de Godoi, pesquisador, radialista, jornalista

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