Esalq: e precisamos “tirar água dos joelhos”

Rubens Santana de Arruda Leme

Nós, setentões, regra geral, vivemos mais de remédios, lembranças e na tentativa de ainda sermos úteis nessa já longa caminhada. Porém, temos de agradecer ao criador termos chegado até aqui, não para ficarmos criticando as novas gerações, fato que não passa para mim, de saudosismo piegas, às vezes inveja. No meu caso, tenho por filosofia buscar entender o andar da carruagem da vida, logicamente também dou minhas escorregadas.

Vamos então às lembranças e à razão do jocoso título dessa crônica. No final da década de cinquenta e boa parte dos anos sessenta, da mesma maneira que outras pessoas do meu tempo, curti os verdes campos da nossa querida Esalq. Piqueniques aos finais de semana na infância, na adolescência, ensolaradas tardes de domingos, ao som das sonatas (é como chamávamos os aparelhos de som portáteis da época), com os vinis dançando no ritmo do tempo que parecia passar mais lento. Paqueras inocentes, mas certamente muitos amores duradouros nasceram daquela “bola” que a moçoila deu para o jovem conquistador, se achando Elvis Presley.

Já na idade adulta, continuei frequentando esse paraíso que o visionário Luiz Vicente de Souza Queiroz deixou para os piracicabanos e brasileiros, essa pérola incrustada em sua fazenda, que se transformou na mais conceituada Escola de Agronomia da América do Sul, a qual em nossa infância chamávamos de Escola Agrícola e que merecidamente leva o seu nome.

Por muitos anos, visitei essa Escola Superior de Agronomia, como representante comercial na área de equipamentos e produtos para laboratórios químicos. Confesso que não consegui vender o suficiente à época para fazer o meu pé de meia, provavelmente porque eu não era um bom caixeiro viajante(risos), mas valeu a pena pelos contatos com brilhantes docentes e cientistas das ciências agrárias, muitos deles hoje do outro lado da vida. Nessa época, também já praticava o saudável costume de caminhar pelo campus de lindos gramados e arvoredos, que nos enchiam e nos enchem os olhos com sua beleza e os pulmões com  a riqueza de oxigênio, fruto da dádiva da fotossíntese.

Com certeza, devo a esse hábito, ter chegado aos setenta e três anos  (quase quatro…) com uma razoável qualidade de vida. Com poucas exceções, como no período da pandemia do Covid ou por problemas de saúde, praticamente a vida toda tive o privilégio de caminhar por esse santuário da ciência e da natureza.

Após alguns meses de molho em virtude de uma cirurgia, dia desses voltei a fazer minhas costumeiras caminhadas.  Semelhante à maioria dos homens com minha idade, problemas na próstata nos obrigam a “tirar água dos joelhos” em momentos inesperados. Eis que, por razões óbvias, tive uma necessidade  premente de “tirar água  dos joelhos” (tenho um amigo, bem mais jovem, que chama de  “fazer o número um”, não preciso dizer qual é o “número dois”). Para minha desgraça, constatei não existir mais o sanitário público (?), localizado ao lado do antigo restaurante do campus, perto do pátio principal onde costumo caminhar. Tive que me virar, usando um banheiro provisório instalado para uso de funcionários da empresa que está fazendo obras na Esalq, um tanto distante para alguém nas minhas circunstâncias.

Prá encerrar, acredito que a nossa Esalq continua sendo um patrimônio do povo piracicabano, paulista e brasileiro. Portanto, em respeito a todas as pessoas que frequentam esse templo da beleza e da ciência, seria interessante que os responsáveis pelo Campus, no momento atual, providenciassem sanitários públicos à altura da sua grandeza e importância.

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Rubens Santana de Arruda Leme, técnico químico industrial, supervisor de higiene e segurança do trabalho, representante comercial autônomo

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