A crença e a ciência

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

O homem primitivo não compreendia os fenômenos naturais do meio ambiente em que vivia e onde ocorriam os fenômenos da natureza, tais como a marcha dos dias, a escuridão da noite, o perigo do crepúsculo, o capricho dos raios, o estrondo dos trovões, a fúria dos vulcões, o frio e as tempestades. Confuso pela consciência da vida, medo da morte e atormentado pelo desejo de sobreviver, a mente do homem divagava sobre como compreender estes fenômenos da natureza e tentava confortar-se dos pesadelos do desconhecido, acreditando na força e nos poderes do sobrenatural.

Observa-se que o sol, a vida, a alegria e a fartura de alimentos são relacionados e atribuídos a deuses em diversas religiões, o contrário acontecia com a morte, a noite, a solidão e o sofrimento com fenômenos atribuídos aos demônios: crenças da mente humana que confortavam o medo do desconhecido.

O cérebro do homem é o órgão responsável pela sua sobrevivência no planeta Terra, sua evolução e desenvolvimento propiciou ao homem inúmeros conhecimentos, possibilitando-o a compreender os fenômenos naturais, desenvolvendo nosso mundo tecnológico e nossa civilização científica.

É com estranheza que deparamos nos dias de hoje, em pleno século 21, tendências ao distanciamento do homem para o conhecimento e apreciação, pública e política, para uma crescente aceitação por diversas formas de ciência marginal, pseudociências, pseudoterapias, misticismo e novos dogmas.

Fenômeno semelhante já aconteceu na história da humanidade, Santo Agostinho, homem que teve juventude saudável e intelectualmente ativa, retirou-se do mundo da lógica e do intelecto e aconselhou outras pessoas a fazerem o mesmo. A morte de Santo Agostinho em 430 d.C., marca o início do obscurantismo na Europa, ou seja, a Idade da Trevas.

Observamos nos dias de hoje o ressurgimento do interesse por doutrinas vagas, anetódicas e experimentalmente errôneas, implicam num descuido intelectual, uma ausência de luta pela vida, um desvio de energia não promissora para a nossa sobrevivência.

Certamente um pouco de reflexão sobre a “A Descendência do Homem”, de Charles Darwin, nos alerta para a importância do conhecimento, o homem pode desculpar-se por sentir-se orgulhoso de ter atingido o topo da escala orgânica, o fato de ter subido até lá e não ter sido colocado no topo originalmente, pode proporcionar-nos um destino melhor no futuro distante, o homem com o seu intelecto que se compara aos deuses ao penetrar na ciência do movimento e na constituição do sistema solar e do universo, pois mesmo com todos os seus poderes exaltados, o homem ainda guarda em sua estrutura corporal a marca inapagável de sua origem primitiva.

A aceitação inquestionável e a crença desmedida em doutrinas vagas, seres sobrenaturais e na criação da natureza por Deus ou deuses, apesar de nossa profunda correlação bioquímica, fisiológica e fisioquímica com os outros seres vivos e com a natureza; a demonstrada falta de rigor científico e intelectual, uma necessidade de substituir as experiências pelos desejos, a simples aceitação e fé, por mais que conforte e alivie os momentos difíceis da vida, o encontro com a verdade pré-estabelecida deve ser limitado, pois é questionando que se aprende ciência e conhecimentos para o progresso da humanidade.

Verificamos que doutrinas místicas são idealizadas a tal maneira que não estão sujeitas a contestações e declaram-se impermeáveis a discussão racional. O cérebro humano foi o instrumento que a natureza nos dotou para a sobrevivência, seria impossível nossa sobrevivência sem a inteligência humana de forma integral e criativa, pois somos uma civilização científica, o conhecimento e sua integridade são cruciais. Ciência é uma palavra latina que significa conhecimento.

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico

 

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