Calamidade no Rio Grande do Sul: o mais recente fracasso do neoliberalismo

Pedro Barbarrossa

 

Estamos presenciando mais uma vez o resultado da completa subserviência governamental àqueles que detém o grande capital. Aos que gritam em coro com o proposital incompetente governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que “agora não é hora de apontar culpados”, devemos responder sem meio-tom que sim, agora não só é hora de apontar culpados, como também de realizarmos críticas com seriedade, e não críticas abstratas do tipo “são tragédias lamentáveis”, “isso é fruto da ganância humana”, “é falta de planejamento”, etc. Sim, de fato, são tragédias lamentáveis, mas que poderiam ser, senão evitadas, ao menos atenuadas significativamente; sim, isso é fruto da “ganância humana”, mas não do “humano” em abstrato, mas de uma classe socioeconômica que dobra o Estado e o povo de joelhos diante de si, e que busca (e continuará a buscar) lucrar a qualquer custo, incluindo sobretudo destruir quaisquer políticas públicas que puder – e, por isso, não só é “culpada” por ser “gananciosa”, mas que, na sua ânsia em expandir seu capital, assassina – e assassina não em sentido “indireto”. É diretamente mesmo que assassina. Por último, sim, é “falta de planejamento”, mas é falta de planejamento porque tal classe não tem e nem pode fazer nenhum planejamento – não lhe convém de modo algum.

Estamos vendo o resultado de algo que possui claramente uma causa constatável, não obscura. Já vimos milhares de vezes o mesmo, seja em “tragédias climáticas” ou relativa a outras coisas. Veremos o mesmo muitas vezes ainda, pois a classe que manda não se importa em prevenir nada, mas precisa que isso aconteça, de tempos em tempos. É o lucro. Para ela, não importa a vida humana, a vida do povo trabalhador. É o capital. Para ela, sempre será o capital. Não é invenção. A realidade está sempre nos mostrando, só não enxergam os fingidores. O Rio Grande do Sul segue alagado, mas o agronegócio segue firme e forte, os bancos seguem firmes e fortes, a burguesia segue firme e forte – e, quando não conseguirem mais seguir, vão arrastar a todos nós para o abismo. E já chegou há muito tempo a beirada do abismo! – Dos nossos bolsos vazios ao cataclisma em todo planeta!

O povo brasileiro trabalhador, por outro lado, mais uma vez vem reunindo suas forças para ajudar com doações de alimentos, produtos de higiene, cobertores, pix, etc. O povo brasileiro trabalhador se sente indignado com a piada de mal gosto que é o governo do Sr. Eduardo Leite e dos seus, com os valores miseráveis destinados à Defesa Civil, com o prefeito bolsonarista de Porto Alegre assumindo um semblante de “lua” diante do absurdo número de 85% de sua população sem acesso a água. O povo brasileiro trabalhador reage, mas reage sem organizar-se de fato entre si para mostrar uma força que nele reside, e que é quinhentas vezes maior do que a que pode mostrar, do que a que vem há muito tempo mostrando dentro dos limites que o neoliberalismo vos permite. O povo brasileiro trabalhador tenta reagir contra a ditadura do capital, tenta reagir contra o fascismo ascendente, tenta reagir contra todos aqueles que lhe quer ver no chão esmagado, alquebrado, impotente, servil.

Morei em Pelotas. Estudei em Pelotas. Formei-me em Pelotas. Tenho muito carinho e consideração por vários e várias com que lá estive, pela cidade. Desejo-lhes força, mas também consciência. Não meramente força inconsciente; e também não meramente consciência sem força. Mas ambas, juntas, para que possam não apenas superar o estado de coisas atual, mas que também não voltem a se deparar com ele de novo. Que o povo do Rio Grande do Sul manifeste-se cada vez mais contrário às políticas desfavoráveis do governador Eduardo Leite e da classe rica para quem ele verdadeiramente governa. O clima não pode ser alterado, mas um projeto de sociedade que não esteja comprometido com a vida do povo, sim.

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Pedro Barbarrossa , formado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas

 

 

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