O Plano Marshall dos gaúchos

Dirceu Cardoso Gonçalves

O governador Eduardo Leite pede a aplicação de “algo parecido ao Plano Marshall(*)” para socorrer o Rio Grande do Sul na catástrofe que se abate sobre o Estado. O presidente Lula, que voltou a Porto Alegre com ministros e os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e sobrevoaram a área sinistrada, declarou que o governo federal está voltado ao problema e vai trabalhar “sem limites de recursos” para a reconstrução dos mais de 345 municípios impactados.
O boletim da Defesa Civil (06/05 – 9h00) registra 83 óbitos, 11 desaparecidos, 276 feridos, 850.422 afetados, 121.957 desalojados 19.368 socorridos em abrigos. As equipes de socorro continuam trabalhando na área sinistrada (equivalente a dois terços do território estadual) e começam hoje, em Brasilia, as providências para atender a população e recuperar a infraestrutura no menor tempo possível. Além das simplificações que o estado de calamidade pública proporciona, os governos trabalham na simplificação de procedimentos com o objetivo do socorro chegar mais rápido aos flagelados.
Não costumamos repetir o mesmo assunto em dois textos seguidos. Hoje, porém, abrimos um precedente devido à gravidade do ocorrido no Sul. No artigo passado, dissemos da necessidade de montagem de um plano nacional de contenção e controle das águas. De o governo federal aplicar um questionário a Estados e municípios, onde estes possam localizar e enumerar os problemas em seus territórios e isso ofereça aos técnicos governamentais os elementos para a montagem do plano de salvação nacional. É o mesmo que o governador Eduardo Leite propõem para o Rio Grande do Sul nesse momento de sofrimento da população. Porém, no “nosso” plano – que pode ser implementado depois do socorro inicial aos gaúchos, a proposta é uma varredura nacional. Encaminhar os problemas do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste, dentro da características de cada região e objetivando o bem-estar as respectivas populações.
O que ocorre no Rio Grande do Sul devido sua topografia, diversidade e característica de seus rios, dificilmente se repetirá nas outras unidades federativas. É por isso que pregamos a realização da enquete onde governadores e prefeitos possam enumerar os perigos de suas localidades. E, cada problema, merece a solução tecnicamente aconselhada.
Apesar de ser um país desenvolvido no posto de vista econômico e tecnológico (a 9ª entre as 54 economias mais desenvolvidas do mundo), ainda precisamos de muita atualização. Tanto que o governo, os congressistas e sociedade estão empenhadas nas reformas econômica e ainda têm o propósito de reformar a política e outros setores vitais da sociedade. Eliminar os gargalos que provocam inundações, secas e outros males é uma das carências. O que o Sul brasileiro necessita é apenas recursos para reconstruir a infraestrutura publica e privada solapada pelas águas e fenômenos climáticos. Excluindo-se as tormentas dos últimos meses, é o mesmo que todas as 27 unidades federativas e respectivos municípios necessitam, com uma diferença: os gaúchos, sinistrados, não podem esperar. Mas não muito porque, mais dias, menos dia, a tormenta poderá se abater nas outras regiões.
(*) Quando fala em Plano Marshall, o governador usa o sentido figurado. Recorde-se que o citado programa, implementado pelos Estados Unidos, teve por objetivo reconstruir a Europa (especialmente França, Itália e Inglaterra) depois da destruição que sofreram na 2ª Guerra Mundial, travada em seus territórios. As medidas à época tomadas foram elaboradas pelo general  George C. Marchall, do Exército dos EUA.(daí a denominação). E não tinha só o objetivo de consertar o que foi avariado pela guerra; também buscou a hegemonia política dos Estados Unidos na região frente à União Soviética, com quem os americanos começavam a Guerra Fria.
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo; e-mail: [email protected]

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