A sucessão do Adilson Maluf (1)            

Antonio José Lásaro Aprilanti

 

Na época do governo do Adilson Benedito Maluf – 1973/76 —, não existia reeleição, e, a partir do segundo ano do seu governo, passou-se a se pensar na sua sucessão e a discutir internamente quem poderia vir a ser seu candidato a prefeito. Dentro da equipe do Adilson não tinha ninguém com pretensões manifestas de ser candidato a prefeito. Como a legenda do MDB deveria indicar três candidatos nas sublegendas, ficou acertado entre as lideranças políticas que o prefeito indicaria um, a Câmara de Vereadores indicaria outro e os deputados: estadual Coelhinho e federal Pacheco Chaves indicariam o terceiro.

Nas diversas discussões em reuniões da equipe administrativa, era assunto recorrente a sucessão. Nesse grupo existia três secretários cotados pelos pares, em condições de disputar a eleição, eram Antonio Mauro de Ferraz Negreiros – presidente do Semae, Antonio Osvaldo Storel  – secretário de promoção social e eu, Aprilanti, que obtiveram destaque como consequência dos trabalhos desenvolvidos no exercício de seus cargos. Como alternativa, eu fui indicado pelos demais colegas a aceitar a indicação como candidato do prefeito. Confesso que não era minha pretensão bem como nunca me senti à vontade em ser candidato a prefeito de Piracicaba, cidade que adotei definitivamente. Resisti à ideia, mas acabei concordando em aceitar caso não houvesse outra alternativa. Nossa gestão gozava de um bom conceito, tinha realizado obras importantes e significativas e tinha a obrigação de indicar um nome, e era conceito de que o prefeito elegeria quem ele indicasse.

Fazia parte do plano de governo a reorganização administrativa, a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento do município, e estava em estudo a alteração da estrutura administrativa da prefeitura, primeiro com a mudança da denominação das coordenadorias para secretarias bem como da criação de uma nova secretaria, a de Planejamento para onde eu fui designado, abrindo, como consequência, uma vaga para a Secretária de Obras.

Das discussões com a equipe de governo surgiu o nome de João Herrmann Neto, engenheiro agrônomo, ex-presidente do Centro Acadêmico da Esalq, ligado ao MDB que, por sinal, já havia sido candidato a deputado federal fazendo legenda como Mário Covas candidato a estadual. Nessa ocasião, o João não se elegeu, mas fez dobradinha e arrumou votos para o Covas que se elegeu pela primeira vez e ingressou na política partidária pelo MDB como deputado estadual. Essa lembrança surgiu da cabeça do Frederico de Moraes Nobre, secretário da administração do Adilson. Lembro-me perfeitamente do dia em que fomos à casa do João, eu o Adilson e Frederico, convidá-lo para assumir a Secretaria de Obras, na casa dele no bairro São Dimas.

O João embora quase desconhecido de nós, tinha um passado político estudantil; era um cara de boa fala e aparência. Lembro-me bem – um detalhe interessante —, de uma imagem do Che Guevara pendurada na parede da sala caracterizava sua marca política. Foi feito pelo prefeito o convite para assumir a nova Secretaria de Obras e apresentada a ele a possibilidade dele vir a ser o candidato a prefeito como sucessor do Adilson, particularmente porque existiam, na época, recursos financeiros e obras programadas a serem iniciadas e tocadas pela Secretaria de Obras. Ele se interessou pela ideia, pediu um tempo para pensar, acabando por aceitar, mas afirmando que se dispunha a assumir a Secretaria, mas descartava desde já a hipótese de vir a ser candidato.

Nas reuniões do secretariado, continuaram a discussões sobre a sucessão, mas ele (João Herrmann) sempre afirmava sua não pretensão em disputar a prefeitura, assim sendo, continuava valendo a opção do meu nome. O João era polêmico e suas atitudes junto aos demais como parte da equipe administrativa causavam um certo mal-estar e desentendimento. Ele se aproximou do Matiazzo, que era um funcionário de carreira já aposentado, experiente e matreiro, e consideravam nós, secretários e auxiliares do Adilson, inexperientes e inocentes em matéria de atividade política.

Certa ocasião, o João, para exemplificar a personalidade de um colega secretário, que ele dizia ser puro e inocente, assim a mim se manifestou: “esse é o cara eu queria pra casar com minha filha, não para lidar com política”.

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Antonio José Lásaro Aprilanti, arquiteto e urbanista

 

 

 

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