Porque amanhã é sábado – O Arnesto nos convidou

Sergio Oliveira Moraes

 

 

O Arnesto nos convidou, não para um samba – que o do samba mora no Brás. O Arnesto destas bandas nos convidou para ouvir e beber os “Poemas para Beber”. Mas no dia, quase que no tudo igual, não teve poemas, mas teve o de beber e muito do prosear.

Fomos naquela sexta-feira – eu, Mato Grosso e o Joca – que nenhum não tinha visto o recado do Arnesto dizendo assim: “ói turma, meu amigo “covidou-se”, a data mudou”. Chegamos, ficamos sabendo do recado do Arnesto, e fomos ficando no assuntar das coisas do lugar, no provar das cachaças, do “rabo de galo”, do conhecimento do Giuliano, sommelier, proprietário do “Maria Marvada” – que se diga, é “Marvada” só no nome, que no ali dentro é nas gentilezas, nas familiaridades de nossas gentes, até no conhecer a casa, as histórias dos móveis, o quintal!

E que quintal! Passei parte da infância em quintais (onde se passam as infâncias hoje?). No ato, um retrato em branco e preto, que num álbum de retratos eu teimo em colecionar – licença seu Chico – de um aniversário, à noite, quintal da casa de avós, mãe e pai de meu pai, as festas eram no quintal. E o quintal da “Marvada” tem árvores com folhagens que nos livram do mal das luzes da cidade, amém! E tem o Giuliano no contar contente da passarinhada que bate ponto no seu quintal.

Voltamos no último dia 05, Arnesto nos informou que o amigo “descovidou-se”, era o dia: “Poemas para Beber”, que gostosura! O trio: Josiane Maria de Souza, a pequena – grande professora que conheci no “Martha Watts”, falando sobre o Neruda de “Cem Sonetos de Amor” (já contei desse encontro neste matutino, quando escrevi sobre a Unimep). Naquela noite: “Canções de Beber”, de Fernando Pessoa, “Rubayat”, de Omar Khayyam, no tintim por tintim do contar da Josiane, que até na camiseta “Pessoava” nosso escutar. Entremeava com Alexandre Bragion, que conheci no reencontro com Josiane, no também saudoso (de uns anos para cá, o poder público dedica-se, com competência, há que se reconhecer, à destruição) programa de rádio “Educativa nas Letras”.

Alexandre, um mistério no dar conta de tanto fazer pela arte e cultura destas bandas, na amorosa leitura de poemas de um Vinícius “Amoroso” de Moraes. E Fernanda Rosolem, com voz e violão nas canções, com Alexandre no violino e bandolim. Não conhecia a Fernanda, pena, e acho que a culpa cabe direitinho no Arnesto, por esse meu desconhecer, faltou no convidar. Fernanda, além de seu cantar e tocar gostoso, troca palavras por um sorriso que fala em seu lugar. Eu, no exagero do tanto falar, invejo esse sorrir.

“Y si esto fuera poco”, Roma, que conheci naquela hora, que já “foi” Fernando Pessoa, deu uma canja com o poema “Tabacaria” do heterônimo Álvaro de Campos. O que dizer? “Y si todo esto, todavia fuera poco” uma prosa com as pessoas, sim, prosas com pessoas, sons de vozes, não de TV ligada, olhos nos olhos, como no quintal da casa dos meus avós, na gostosura que se fica depois de “Poemas para beber”. Aviso do Arnesto: em maio tem mais. E sei não, mas acho que se a gente insistir, o Arnesto não para.

Achou ridícula esta carta, Arnesto? É que todas as cartas de amor são ridículas, né não, seu Campos?

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Sergio Oliveira Moraes, físico e professor aposentado Esalq/USP

 

 

 

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