Campanha eleitoral

Gregório José

Neste ciclo insólito da política brasileira, marcado por artimanhas, acordos espúrios e a constante busca pelo poder, chegamos mais uma vez ao espetáculo do encerramento da “janela partidária”. É como se os artistas do circo político, após um longo hiato de espetáculos, voltassem a se apresentar para uma plateia que, apesar de cansada, parece sempre se surpreender com as mesmas piadas velhas.

O prazo para a troca de partidos se esvai como água escorrendo pelos dedos. Vereadores, ávidos por garantir sua sobrevivência no pântano político, trocam de legenda como quem troca de roupa, buscando as cores que melhor se adequam à temporada eleitoral que se avizinha.

A Reforma Eleitoral de 2015 trouxe consigo essa aberração chamada “janela partidária”, uma brecha no sistema que permite aos detentores de mandatos obtidos em eleições proporcionais, como nossos estimados vereadores, mudar de partido sem perder o precioso mandato conquistado nas urnas. É como se o eleitor, ao depositar sua confiança em alguém, estivesse jogando seus votos em um saco de gatos, sem saber quem irá atirá-los para o próximo palanque.

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, de que o mandato pertence ao partido, e não ao eleito, é um retrato cruel da desfaçatez política. Assim, a dança das cadeiras começa, e os políticos, como ratos famintos, correm para garantir seu lugar na mesa do banquete eleitoral.

Enquanto isso, a Câmara Municipal, que deveria ser o palco das discussões e decisões em prol da população, se encontra em um estado de letargia, poucas sessões marcadas, pois seus membros estão ocupados demais trocando de legenda como quem troca de roupa suja.

É neste momento que vemos surgir alianças improváveis, abraços calorosos entre antigos inimigos e promessas mirabolantes feitas ao vento, na esperança de conquistar votos suficientes para garantir mais quatro anos de poder. E no meio dessa bagunça, as mulheres, mais uma vez relegadas ao papel de meros peões no tabuleiro político, são trazidas para os partidos não pelo seu potencial, mas pela quantidade de vagas que podem preencher. É um insulto à inteligência e à capacidade feminina, em um país onde mais da metade dos eleitores são mulheres, mas poucas se voluntariam para ocupar cargos políticos.

Neste frenesi de mudanças partidárias, é imprescindível destacar o papel das mulheres no cenário político brasileiro. Apesar de representarem mais da metade dos eleitores do país, as mulheres ainda são sub-representadas nos cargos políticos e frequentemente tratadas como peças secundárias nas negociações de poder. É inegável a força que as mulheres representam na política, não apenas pelo seu expressivo número de eleitoras, mas também pela sua capacidade de mobilização e engajamento nas questões sociais e políticas. No entanto, é lamentável que, mesmo diante desse potencial, poucas sejam as que ocupam cargos de destaque nos partidos políticos.

Neste teatro grotesco, onde as máscaras caem e os interesses pessoais se sobrepõem ao bem comum, resta ao eleitor observar atentamente os malabarismos políticos que se desenrolam diante de seus olhos. É hora de exigir transparência, responsabilidade e comprometimento com a verdadeira causa pública. Chega de circo, queremos política séria!

A dança das cadeiras pode até continuar, mas esperamos que, ao final do espetáculo, o povo brasileiro não seja apenas o espectador passivo, mas sim o protagonista da verdadeira mudança que o país tanto necessita.

Vamos aguardar e cobrar, afinal, o espetáculo ainda está longe de terminar. E que os palhaços da política brasileira não esqueçam que, no final das contas, somos nós, o público, que pagamos o ingresso.

 

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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo

 

 

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