Semana Santa e cultura popular

Antonio Oswaldo Storel

 

Semana Santa, sempre foi um tempo de respeito e devoção para a maioria das pessoas, especialmente para os cristãos. Celebração dos momentos culminantes da vida de Jesus Cristo no meio da humanidade e motivo de confirmação da fé em razão da ressurreição do Filho de Deus, crucificado que foi pela expiação dos nossos pecados. O plano de Deus é perfeito e o fato de enviar seu próprio Filho para resgatar toda a humanidade marcada pelo pecado, abrindo-lhe o caminho da salvação, só demonstra o seu infinito Amor por todos nós.

Na liturgia católica, as leituras bíblicas relembram todas as passagens dolorosas na vida do Filho de Deus. As igrejas usam os paramentos roxos como sinal de recolhimento e respeito pelo gesto salvífico de Jesus. Cobrem as imagens com panos também roxos. Os fiéis procuram, através do jejum e abstinência, acompanhados da prática da caridade e orações, entrar num clima de sentimento profundo em solidariedade à paixão e morte do Cristo.

Apesar de as celebrações litúrgicas não terem mudado muito ao longo dos tempos, a cultura popular para com a semana santa, vai sofrendo mutações com as mudanças por que passa a própria sociedade humana. Ainda me lembro dos tempos de criança, quando alguns diziam que na sexta feira santa, após a morte de Jesus na cruz, o capeta ficava livre para aprontar das suas. E nós, que morávamos na chácara onde ainda não tinha chegado a luz elétrica, entravamos no clima para aprontar algumas brincadeiras meio malucas. Era costume apanharmos mamões verdes, furá-los com o canivete fazendo buracos como se fossem a boca e os olhos de uma caveira, acender uma vela dentro e colocá-los sobre os morões da cerca, na estrada. Na escuridão da noite, quem passava pela estrada se assustava com aquilo, até se lembrar que era sexta feira santa e que aquilo era brincadeira da molecada.

Já no sábado, era costume da criançada correr atrás dos apetrechos para montar o Judas com roupas velhas recheadas de jornais, enfeitá-lo com alguns prêmios conseguidos com doações, pendurá-lo num poste de eucalipto untado com sebo e fincá-lo em um local de fácil acesso para que o povo assistisse a tradicional competição da subida ao pau de sebo. E quando os sinos das igrejas badalavam anunciando o aleluia, soltavam-se rojões e o Judas era derrubado e queimado, para demonstrar certo sentimento de vingança pela traição a Jesus.

Na procissão do enterro, os fieis acompanhantes demonstravam um forte sentimento de tristeza com a banda tocando músicas fúnebres e ficou gravado em nossa memória o momento em que o andor com a imagem do Cristo parava e a Verônica, com sua veste negra e o seu canto característico, enxugava o rosto do Senhor, cuja imagem ficava gravada na toalha que era elevada e mostrada ao povo. Já, depois da ressurreição, o clima era de muita alegria, comemorando a vitória sobre a morte que era celebrada no domingo, ao alvorecer do dia, com a procissão do encontro de Maria com Jesus ressuscitado.

Tudo isso, vale a pena recordar para dizer que a sociedade dos nossos dias vai, cada vez mais, deixando essa cultura para trás e apegando-se a um sistema de vida individualista e consumista, aguardando os feriados da semana santa apenas com o objetivo de aproveitar os dias de folga para viagens e passeios, superlotando as rodoviárias, aeroportos e as estradas onde muitos encontram a morte em acidentes que deixam também muitos mutilados. Longe de qualquer devoção para com a paixão, morte e ressurreição do Filho de Deus que se entregou ao sacrifício supremo para nos salvar do pecado, da falta de amor que hoje invade a nossa sociedade.

E as crianças, hoje, são atraídas pelos ovos e coelhinhos de chocolate que os supermercados propagam exageradamente na busca de um aumento de seus faturamentos com essa festa, criando em suas cabecinhas inocentes, uma grande confusão a respeito do real significado da festa da Páscoa.

Páscoa, que deveria significar para todos os que creem em Jesus Cristo, momento de alegria sim, porem, acima de tudo, momento de se pensar em vida nova, com novas atitudes, novos pensamentos, colocando em primeiríssimo lugar a vivência do verdadeiro amor que Ele veio nos ensinar.

Que todos os que conosco chegaram até aqui nessa leitura, possam sentir-se nesta Páscoa de 2024, filhos amados de Deus, irmãos de Jesus Cristo, amando-nos uns aos outros como Ele nos amou construindo a Amizade Social. Feliz Páscoa a todos!

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Antonio Oswaldo Storel, membro do IHGP, ex-vereador (1997-2008), ex-presidente da Câmara Municipal de Piracicaba (2001-2002)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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