A misericórdia do amor de Deus

Antonio Oswaldo Storel

Quem  participa de um grupo de reflexão sobre a Palavra de Deus, sempre ouve alguém dizer que tem dificuldade de entender a parábola conhecida como “O filho pródigo”. E essa dúvida está relacionada com a dificuldade que todos nós temos de entender a grandeza  da Misericórdia do Amor de Deus para com seus filhos. Quando estudamos os Dez Mandamentos da Lei de Deus nos primórdios da nossa catequese, as catequistas nos faziam decorar as dez regras estabelecidas na tábua de Moisés para que as cumpríssemos em nossas atitudes cotidianas. Era o parâmetro a ser seguido no momento da nossa confissão com o sacerdote.

Quando Jesus Cristo viveu, disse que não veio para abolir a Lei, mas para mostrar que ela seria aperfeiçoada pelo Amor. A obediência aos Mandamentos não é pelo simples fato da existência da Lei, como uma obrigação em seu cumprimento, mas esse comportamento é fruto verdadeiro de um sentimento muito forte que nasce no íntimo de cada filho de Deus e que Jesus chama de Amor: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Ele coloca a nova qualificação do Amor. Não é mais “Amar ao próximo como a si mesmo”.

Se entendermos perfeitamente essa qualificação do Amor isto é, entendermos bem “como Ele nos Amou”, aí sim, também compreenderemos como é  imensa a Misericórdia com que é recheado o Amor de Deus para com seus filhos. Aí sim fica mais fácil compreender a razão da grande alegria do pai com a recuperação do filho perdido que retorna aos seus braços pedindo perdão pelos erros cometidos. Os braços abertos para o abraço paternal ao filho maltrapilho, faminto, sem banho, mas vivo e arrependido. Demonstrações de um amor misericordioso, sem repreensões ou castigos, mas com festas e honrarias.

Mas aí vem a outra face da parábola: o filho mais velho que volta do trabalho no campo, cumpridor da lei e de todas as normas de comportamento para com a família e que sente-se discriminado por nunca ter sido agraciado com uma festa como aquela. E demonstra ao pai o seu descontentamento e a sua revolta. Aquele que abandonou a família e foi esbanjar os seus bens pelo mundo afora, ao retornar é motivo de alegria e de festas e o “justo”, o que ficou aqui, cumprindo seus deveres cotidianamente não merece tal regozijo.

Aí o pai lhe explica que a sua companhia e colaboração permanente sempre lhe trouxeram tranqüilidade porem, a perda do filho mais novo lhe provocara uma angústia muito grande e um vazio em seu coração. Razão porque a sua recuperação, vivo e arrependido, lhe provocara uma alegria muito grande, digna de ser festejada.

Na verdade, muitos ensinamentos podem ser tirados dessa parábola. O filho mais novo, que se aventurou a assumir a própria vida e não soube administrar os seus bens, conheceu de perto as piores situações por que pode passar o ser humano. A miséria, a fome obrigando-o a alimentar-se junto aos porcos, um verdadeiro inferno. Aí a sua consciência mexe com o seu raciocínio: os empregados de seu pai são tratados com dignidade enquanto ele estava ali nesta situação triste. Então, vem o arrependimento que o faz voltar.

“Enquanto o filho mais velho é o ‘justo’ da história, ‘cumpridor das normas e possuidor de direitos’. Ele não necessita de conversão. É calculador, triste ‘burocrata da virtude’, sem brilho, sem otimismo, sem alegria. A parábola nos ensina que não basta ser fiel cumpridor das leis e não sair de casa; é preciso ter misericórdia e ser solidário, acolhendo os irmãos e irmãs que não se saíram bem na tentativa de vida melhor. A família e a comunidade devem ser locais de acolhida, amor e perdão. Todos  tem direito à redenção, a uma segunda chance.”(Pe. Nilo Luza, SSP – O Domingo)

A palavra misericórdia (miser+cord=miséria+coração), tem o seu significado principal voltado para a acolhida àquele que está na miséria. No caso do infinito Amor de Deus, significa a acolhida e perdão àquele que se afastou da prática do amor, que está no pecado. Acolhida que é manifestada pela alegria do Criador pelo retorno e arrependimento de seu filho amado que estava perdido.

Somente compreendendo bem como é que Jesus nos ama, com um Amor cheio de Misericórdia, é que entenderemos como viver plenamente este dom supremo em nossas vidas junto aos irmãos e irmãs.

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Antonio Oswaldo Storel, membro do IHGP, ex-vereador (1997/2008); ex-presidente da Câmara Municipal (2001/2002)

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