Patrimônio – Projeto com quatro torres na Boyes é reprovado em conselho estadual

Órgão de patrimônio estadual não aceita novo projeto Boulevard Boyes; instituto nacional protocola pedido de urgência para tombamento da antiga fábrica

 

 

O projeto Boulevard Boyes, com quatro torres residenciais de 90 metros mais centro de compras, para a antiga fábrica têxtil em Piracicaba, foi indeferido na segunda-feira (11), pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), órgão estadual subordinado à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

No mesmo dia, o Movimento Salve a Boyes protocolou pedido emergencial de tombamento da Boyes na regional paulista do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), autarquia federal do Governo do Brasil e vinculada ao Ministério da Cultura. Segundo análise prévia do superintendente do instituto em São Paulo, Danilo Nunes, e da coordenadora técnica, Olivia Buscariolli, há a possibilidade de tombamento tanto da área fabril como do Engenho Central.

No âmbito estadual, conforme os relatos de Marcos Rabelo, historiador com cargo no Iphan em patrimônio imaterial e indicado do instituto para cadeira no Condephaat, a reunião de segunda-feira recusou a substituição do projeto anterior para Boyes, exclusivo para construção de um shopping center pelo plano atual para arranha-céus residenciais e mais o centro de compras. Em oitiva anterior, responsáveis da KTV, escritório que fez o projeto em questão, explanaram ao conselho estadual aspectos comerciais e não ofereceram de informações quanto à proteção a bens tombados pelo Condephaat – o principal temor de impacto é quanto ao Engenho Central, localizado imediatamente em frente à fábrica.

Sobre o tombamento da Boyes no Condephaat há um impasse instalado, explicou Rabelo. No próximo dia 25 deste mês, o órgão estadual se reúne novamente para ouvir de dirigentes da UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico) – braço técnico e executivo do conselho – a situação atual do estudo do pedido de tombamento feito pelo Movimento Salve a Boyes. Ele espera da apresentação dados já levantados, demandas sobre outras necessidades e há dúvidas se haverá alguma previsão de finalização do procedimento – entretanto, mesmo com o pedido não-finalizado, o Condephaat já oferece proteção ao patrimônio como se o mesmo já estivesse tombado.

Rabelo relatou que o tombamento efetivo da fábrica histórica não está no planejamento do conselho em 2024 por baixo efetivo da área técnica da UPPH. Desta forma, no entendimento do historiador do Iphan, o Condephaat não deve liberar o novo projeto por correr um pedido de tombamento.

Diante do cenário em âmbito estadual, porém de forma autônoma e independente, o Iphan entra como um ente possível para fazer o tombamento de forma emergencial no curto prazo, a depender das informações disponibilizadas e correlação com o cenário da história do Brasil, ou seja, comprovando a relevância nacional das áreas analisadas. As chances são grandes ao ligar Boyes e Engenho, traçando uma linha histórica sobre o setor industrial nacional. Criada por Luiz de Queiroz, idealizador da Esalq/USP, a fábrica foi uma das primeiras a ter energia elétrica produzida em estação própria em seu terreno e também é pioneira ao receber a primeira linha telefônica em Piracicaba. Fundada em 1874 com o nome Fábrica de Tecidos Santa Francisca, o local é considerado também a primeira grande indústria piracicabana. O Movimento Salve a Boyes entregou para o instituto um dossiê com 383 páginas de todo complexo Beira-Rio – 191 são textos e imagens, 84 de artigos da imprensa e oito delas com mapas de bens tombados. Fazem parte do Movimento atualmente mais dezenas de profissionais de diversas áreas, preocupadas na preservação deste bem de enorme significado para a memória e a história de Piracicaba.

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