Mosquitas

Camilo Irineu Quartarollo

 

Um parlamentar nordestino se referiu à fêmea do mosquito da Dengue como “mosquita da denga”! Nada que se obste a esse falar legítimo. Todo mundo sabe como nascem os mosquitos ou mosquitas, na sujeira do quintal e na água parada. O fumacê já foi sugerido como a solução terminante. O veneno pode fazer mal à saúde humana e aos animais domésticos. Se bastar um mosquito ou uma mosquitinha com seus ovos numa bacia velha, num ralo, a dengue volta como sempre – essa “criadeira de uma figa” consegue pôr até 200 ovos por vez.

Ora, os cuidados domésticos, além de interromper a transmissão da dengue e abrir espaço no quintal e calçadas, uma vez limpos de cocôs de cães e entulhos, vai inibir também doenças tais como Chikungunya, Zika Vírus, a Febre Amarela Urbana e, inclusive, a Febre do Oropouche transmitida pelo mosquitinho maruim (reconhecido pelos caipiras como “musquito-porva”).

Precipuamente, é nos municípios e por cuidados domésticos, de eliminar criadouros que a transmissão se bloqueia. Não é por vacinação em massa, mas eliminação dos criadouros de águas paradas. Em Piracicaba ainda está devagar, quase parando. Aqui se intensifica um pouco a fiscalização, depois, somente depois de aparecer algum caso no bairro – talvez ainda estejam esperando uma vacina milagrosa.

As políticas sociais e sanitárias ficam assim, principalmente as sanitárias, que aparecem menos. Pois, erradicar a dengue não dá voto. Só se lembra da saúde quando, e, se estiver doente. O natural é ser saudável. Nesse universo, quem pode olhar não vê, quem pode ver não olha, num mundo paralelo de bolhas digitais.

A vacina ainda é um paliativo. A ação deve ser a limpeza de campo, eliminação de criadouros e fiscalização efetiva de todos os bairros, não somente onde houver surto. Entretanto, o criadouro não está somente no nosso quintal, perto do nosso cachorro, a mosquitaria ladra nas redes sociais, movidas mais que asas de besouro.

E tomem narrativas, mensagens subliminares, por números e figuras distorcidas pela semiótica, para capturar os desavisados e leitores exclusivamente de gibis, do capitão América, Pato Donald e do Tio Patinhas. Contudo, os arroubos patrióticos de um parlamentar na tribuna excitam os ingênuos. Quer-se comparar Dengue com a Covid, a qual não tem comparação dos mortos diários que tínhamos. Por outro lado, a vacina contra a dengue está em processo, ainda não é a melhor opção. A medida imediata é profilática, extermínio dos criadouros.

Vamos ter de fazer a lição de casa. Virar de borco baldes e receptáculos com nossas próprias mãos e desempoçar pneus, tampinhas, bacias e outras bugigangas espalhadas e esquecidas no quintal, entulhados. Arrumemos calhas tortas ou em desnível e empoçamentos. É ação de mutirão e consciência cidadã, limpemos a cidade e acabemos com as doenças transmissíveis pelos mosquitos!

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros, como o Contos inacreditáveis da Vida adulta

 

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