As mulheres da minha vida

Antonio Oswaldo Storel

Na história de vida de cada um de nós, todos temos o registro da influência de inúmeras mulheres que deixaram marcas importantes na formação do nosso caráter, da nossa personalidade. E a consciência da nossa memória, vira e mexe, traz à tona a gostosa lembrança de passagens importantes vividas com elas. Hoje, lembrando-as neste texto, procuro render-lhes o louvor que merecem.

A começar por minha mãe, Tereza Adelina Rasera Storel, aquela humilde intermediária de Deus que me trouxe à vida como fruto do amor que a uniu a meu pai Ernmesto. Como primogênito de quatro irmãos, pude vivenciar, durante minha infância e juventude, a grandiosidade do amor e dedicação com que nos criou. Sua bondosa mão, colocada sobre a minha, ensinando-me a escrever as primeiras letras nos poucos momentos de pausa do trabalho diuturno cuidando da “criação” (vacas, porcos, galinhas) e da plantação que nos alimentavam, da casa, lavando nossa roupa com água tirada do poço com carretilha e balde, molhando a horta duas vezes por dia. Foi ela também que me ensinou as primeiras orações. Quanta coisa eu teria a dizer dela. A benção, mamãe Tere!

A minha segunda mãe, foi minha avó materna, a nona Rosa Sesso Rasera. Ficou viúva, com seis filhos, o mais novo com menos de um ano de vida e um sitio de 3,5 alqueires de terra, para cuidar. Mulher valente e lutadora, venceu todos os desafios sem saber ler nem escrever e eu, como o neto mais velho, sempre “grudado” com ela, no trabalho, nos passeios, na frequência às missas. Lembro-me de sua figura junto ao fogão de lenha, com um netinho de colo num braço e com o outro mexendo a polenta com a “mescola” (um pá de madeira) e cantarolando. Depois, derrubava a polenta sobre uma tábua redonda, deixava esfiar um pouco e cortava-a em fatias com um fio de arame bem fino. Tinha uma mesa no Mercado onde comercializava tudo o que produzia na Chácara e negociava com gente famosa da cidade como Dr. Pedro Krahenbul, dono do jornal, Eugenio Cervelini, Dr. Spalini entre outros. Foi ela quem me levou para a matrícula no curso primário da Escola Normal Sud Mennucci, apresentando-me ao diretor Prof. Antonio Oswaldo Ferraz e dizendo-lhe: “questo é mi netinho e bisonha estudiar” e ele, olhando minha certidão de nascimento, me disse: “seja benvindo meu chará”.

Depois, conheci minha primeira professora, Dª Dirce Coelho Mendes, muito amorosa ao ensinar, porém,  rígida na disciplina. Acompanhou-nos no primeiro e segundo ano e muito devo a ela na formação que tive. Depois de muito tempo, soube que havia falecido no primeiro parto. A partir do terceiro ano, foi a vez da boníssima Dª Helena Dutra Furlan, irmã dos artistas famosos Arquimedes e João Dutra, nos ensinava como se fosse nossa mãezona. Lembro-me do prêmio que ela me deu quando terminei o curso primário, um livro sobre a vida de Oswaldo Cruz, com uma dedicatória: “Espero que você siga o exemplo desse homem”. Minha mãe sempre me encarregava de levar algo da chácara às professoras, como cajus, flores lindas como dálias, margaridas e rosas.

Guardo muito boas recordações e profunda gratidão à professora do preparatório para o exame de admissão ao ginásio, Dª Irlinda Maffeis  Sartini, à quem fui encaminhado pela bondade de seu filho e meu colega de classe, Raul Sartini Filho, pois meus pais tinham dificuldade de pagar uma professora particular.

Depois de ingressar na Faculdade de Odontologia, lá na longínqua cidade de Lins, conheci minha esposa Marilene, a minha adorada Mary, e começamos a namorar em 1956. Ficamos noivos na formatura, em 1958 e nos casamos em 1962. Completamos 62 anos de casados em janeiro último e juntos, alicerçados pelo amor que nos uniu, construímos nossa família que é o nosso maior tesouro: um filho, duas filhas, Maryse e Anelyse e duas netas que adoramos, Gabriela e Giovana. Lecionando piano em casa e no Conservatório Mary se realizou, enquanto eu, por 42 anos exercia a profissão de cirurgião dentista em meu consultório, sempre envolvido com a atuação comunitária, e em cargos públicos, com o imprescindível apoio delas.

Essas são as mulheres de minha vida a quem devo a alegria de poder hoje homenageá-las.

 

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Antonio Oswaldo Storel, membro do IHGP, ex-vereador (1997-2008), foi presidente da Câmara Municipal (2001-2002)

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