O fim do garoto propaganda?

Ari Junior

Assisti recentemente uma pessoa alegando que hoje não existem mais os conhecidos “garotos propaganda” como antes. Fiquei intrigado com isso, mas ele explicou: o fato é que, com a existência das mais diversas redes sociais, estas acabam atingindo preferencialmente, públicos específicos, e isso faz com que os anunciantes também tenham de ter estratégias diferenciadas para atingir cada um dos públicos alvo. Antes, como a bem dizer só havia televisão e rádio como veículos de disseminação de informações, o mesmo garoto propaganda servia aos dois meios de comunicação. Estes abrangiam todas as classes de pessoas, e uma estratégia apenas era suficiente. Quem não se lembra do bordão “quer pagar quanto”, “compre Bottini, compre Bottini” “1001 utilidades”, e automaticamente, já não associa à pessoa do vendedor? Essa era a intenção, fixar a marca, o produto, na nossa mente, e por isso, alguém carismático e insistente era contratado para isso, o nosso garoto propaganda.

Essa pessoa cita na sequência um banco famoso no País, e diz: veja, na TV, esse banco tem um garoto propaganda, que não é o mesmo dos seus anúncios no Instagram, e que não é o mesmo nos anúncios do You Tube, e que já é outra pessoa, quando acessamos o site deste banco. Para cada ambiente de anúncio, foi pensado quem seria o público consumidor que mais acessa essa plataforma, e o vendedor que foi escolhido tem a meta de agradar esse público. Em alguns casos, o mesmo produto (o banco), é vendido por um sóbrio senhor grisalho de terno, por uma garota de cabelos coloridos e tênis, e por um rapaz musculoso de camiseta e algumas tatuagens, dependendo de onde está sendo anunciado. Tudo para diversificar, e atingir o consumidor que acaba por simpatizar com aquela figura que está lhe oferecendo abrir uma conta ou tomar um empréstimo.

O que isso deve nos apontar, afinal, de uma forma ou de outra, todos somos vendedores, em maior ou menor escala? Um aspecto que não nos pode mais passar despercebido é que as velhas fórmulas de abordagem estão cada dia mais obsoletas e ultrapassadas. O que não significa que os valores também ficaram. Valores, caracteres e princípios, são imutáveis e indeléveis. Mas, respeitando-se estes critérios, temos de nos adaptar às novas mídias e assim, aos novos tempos. Você pode vender LPs de vinil a um rapaz de 19 anos, mas, se o vendedor que o abordar for um senhor sóbrio, de terno cinza escuro, com face sisuda, dificilmente ele ficará tentado a comprar nas mãos deste garoto (não tão garoto) propaganda. Porém, se for o mesmo LP de vinil, dum artista atual, apresentado por uma garota com um visual mais despojado e que entenda tanto do que está vendendo, e ainda mais, para quem está vendendo, o mesmo produto, que é, por conceito, vintage, direcionado a pessoas com mais idade, passará a ser interessante para esse jovem, que provavelmente, o comprará.

Assim, concluímos que sim, o garoto propaganda chegou ao fim, mas, deu lugar aos garotos e garotas propagandas, sejam estes de 18 ou 80 anos, designados para as mais diversas plataformas, a fim de divulgar exatamente o mesmo produto, mas, cada um à sua maneira, aumentando assim, as vendas da empresa contratante. O futuro chegou, e como cantou Geraldo Vandré, “quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”. Viva a modernidade!

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Ari Junior, comprador, escritor

 

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