José Renato Nalini
Esta era de incertezas deveria tornar a humanidade mais humilde. Reconhecer que não é dona de seu destino, que sua insensatez causou o aquecimento global e, com ele, as drásticas mudanças climáticas a que todos estão sujeitos. Contudo, é o momento das “certezas absolutas”. Não é por outra razão que, principalmente os jovens, diante de qualquer indagação, têm pronta a resposta: “Com certeza!”.
Certeza, e ainda assim relativa, tem a ciência. A ciência trabalha com evidências. Sem achismos, sem palpites, sem chutes. E foi a ciência que forneceu ao Brasil os argumentos para a vedação do inseticida fipronil, responsável por mais de 70% da mortandade das colmeias nacionais.
Enquanto o consumismo, aliado ao imediatismo, ordenam a aquisição de venenos cada vez mais fortes, é o trabalho paciente e prolongado de cientistas como Osmar Malaspina, pesquisador da Unesp em Rio Claro. Quase cinquenta anos devotado à apuração das mortes das abelhas, sem as quais não existirá mel, mas também não existirão frutas, flores e muita coisa mais.
Enquanto a União Europeia, Colômbia e Costa Rica já haviam banido o fipronil, o Brasil continuou a usá-lo. Ele é capaz de liquidar colmeias inteiras em algumas horas.
O Brasil está sempre atrasado quando se trata de preservar a natureza e a saúde de sua população. O DDT, utilizado na Segunda Grande Guerra, só foi proibido aqui em 1985. E estava provado que ele causava doenças neurológicas, respiratórias e cardiovasculares em seres humanos.
Apiários próximos à cultura cítrica, foram os que primeiro sofreram os efeitos do fipronil. Um avião pulveriza veneno sobre o laranjal e, no dia seguinte, todas as abelhas estão mortas.
Comprovada a ação mortífera do fipronil, houve a reação do agronegócio. A “salvação da lavoura” tupiniquim é muito forte em lobbies. Preferiu continuar a usar o veneno.
O Brasil parece esquecer-se de que existe um princípio a ser cultivado na questão ecológica: a precaução, mais importante ainda do que a prevenção. Diante da insegurança do uso de um produto, é melhor evitá-lo. Isso não foi observado em relação ao fipronil. Agora, é uma questão de vida ou morte: ele mata abelhas e interrompe uma cadeia existencial que vai atingir a própria vida humana. Haja coragem para que ele desapareça da agricultura nacional. Invistamos cada vez mais em ciência. Os cientistas sempre têm razão. Nós, leigos, nem sempre.
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José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras