Edson Rontani Júnior
O Brasil também foi um celeiro de inventores, tal qual os Estados Unidos cujos criadores quase sempre saíam aos sopapos para registrar suas patentes. Alguns destes eram Ford, Edison, Westinghouse, Tesla e tantos outros. O segundo, aliás, tinha uma fábrica de cientistas com os quais trabalhou para criar e produzir tecnologia a partir da energia elétrica.
Alguns destes registraram suas invenções no Brasil. Henry Ford, criador da linha de produção de veículos, fez registro de patentes no Brasil. Assim como Nikola Tesla que patenteou por aqui, em 1910, uma máquina que gerava energia através de líquidos.
Invenções e seus inventores são colocados à apresentação pública através do INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, órgão do governo federal que está completando 53 anos de atividades. O projeto “Memória da Propriedade Intelectual – Patentes Históricas” digitalizou mais de 3.200 patentes depositadas no Brasil de 1895 a 1920, demonstrando que o país já chamava a atenção das grandes empresas americanas pelo avanço tecnológico que aqui prosperava. Cabe lembrar que estávamos saindo do regime monárquico, entrando na República que avançava na política do “café com leite”.
O acervo pode ser acessado de forma gratuita. É curioso ver algumas invenções como baldes com patins para andar em rios ou o soro antipeçonhento patenteado, em 1917, por Vital Brazil e doado ao governo de São Paulo para aplicação gratuita na população.
Não por acaso, encontramos a cidade de Piracicaba citada duas vezes no acervo até agora disponibilizado. Pois é, tivemos nosso “Professor Pardal”, para usar um termo que apenas os mais antigos conhecem. Uma das invenções era o Aero Moto Eterno (Guilherme Góri), motor para relógio no qual o vento é utilizado como força motriz. O inventor era o barbeiro Guilherme Góri, italiano de nascimento, morador de Piracicaba. Sua patente está registrada sob o número 13.238, com autorização do presidente Wenceslau Bráz em 1917. O registro foi endossado por Oscar Costa, no Rio de Janeiro, procurador do inventor. O documento de registro é ricamente detalhista, em duas páginas datilografadas ocupando toda a extensão de ambas. A invenção utilizaria o vento para dar corda em relógios de parede. Cabe lembrar que os relógios de antigamente, aqueles com pêndulo, precisavam de “corda”, a qual era dada com uma espécie de chave, a exemplo do que anos mais tarde tivemos com os despertadores colocados no criado-mudo. Eixos, molas, discos … A patente é extensa numa união da engenharia com a física, exigindo colocação de cata-vento que deveria ficar acima do telhado da residência. O texto dá noção que o cata-vento também poderia ser colocado em navios e “carros de estradas de ferro”.
Outro inventor residente em Piracicaba foi João Baptista de Paula Ferraz em que 14 de junho de 1916, sob o depósito 13.522, patenteou “uma caixa dupla de descarga para latrinas”. Ele foi representado por Moura & Wilson, residentes na capital federal (Rio de Janeiro), “procuradores e agentes de privilégios”. O registro também foi assinado pelo presidente Wenceslau Bráz. João Baptista, diz o documento, era industrial em nossa cidade.
O pedido de patente também estava datilografado e trazia a perspectiva ilustrada da invenção. São cerca de duas páginas. A caixa de descarga pretendia dispensar válvula e sifão, ter precisão na descarga sem molhar o chão da “casinha”, e nem tirar a pressão de outras torneiras da casa. Seria o princípio da atual caixa acoplada, porém, assentada no alto.
Este resgate do INPI serve para mostrar o quanto foi importante a colaboração tecnológica dos brasileiros, dos estrangeiros e também destes dois piracicabanos. Foram úteis em seus tempos. E, como revelou o “tio” Cecílio Elias Netto, o bom é brindar com uma caipirinha já que a mesma também foi inventada em nossa terra.
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Edson Rontani Júnior, jornalista, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP)