Piracicaba: só “Sem Papel”?

José Osmir Bertazzoni

 

Desejo crer que a presente administração municipal, liderada por um neófito da política brasileira, nada fez para nossa cidade em termos de desenvolvimento social ou econômico. Torna-se imperativo discernir se devemos eleger candidatos com privilégios hereditários ou, ao contrário, optar por indivíduos da nossa comunidade, devidamente familiarizados com nossos dilemas e comprometidos com o progresso humano.

A escolha eleitoral é uma ação intrinsecamente pessoal e inalienável. Nossos equívocos acarretam implicações, como testemunhamos ao vivenciar mais de três anos de paralisia municipal, justificada única e exclusivamente pela crítica às gestões anteriores, que, de maneira mais ou menos eficaz, contribuíram para o desenvolvimento da cidade, colocando-a entre as principais exportadoras do país.

Desde 2020, quando o atual prefeito assumiu o cargo, testemunhamos a negligência em relação à cidade, abandono de suas vias e praças, bem como o comprometimento do meio ambiente, sem qualquer investimento perceptível na melhoria dos serviços públicos.

Gostaria de compartilhar uma notícia recente que demanda esclarecimentos aprofundados: “Pesquisa de satisfação revela que mais de 80% dos usuários aprovam a atual gestão das UPAs Vila Cristina e Vila Sônia em Piracicaba”.

Curioso é o fato de que a CPI da Câmara Municipal, incumbida de investigar a responsabilidade por óbitos suspeitos de negligência, imprudência e imperícia, por alguns de seus membros, resistem em ouvir os servidores públicos responsáveis pela fiscalização do contrato entre a Prefeitura de Piracicaba e a organização social de saúde (OSS) Mahatma Gandhi.

Segundo informações, a Comissão de Fiscalização produziu cerca de 80 relatórios que, segundo informações – permanecem arquivados na Secretaria de Saúde – tais documentos confirmam o descumprimento de contratos pela OSS. Nesses relatórios aponta-se a ausência de pediatras, nas unidades Vila Cristina e Sônia, especialidade essencial exigida contratação, e a não utilização de aparelhos de ultrassonografia, alugados, mas nunca operacionais, evidenciando o descumprimento de cláusulas contratuais.

Em uma audiência pública, o Vereador Cássio Luiz Barbosa (PL), conhecido como Cássio Fala Pira, apresentou um vídeo com depoimentos de pessoas próximas a pacientes que faleceram entre agosto e outubro. Algumas dessas testemunhas estavam presentes no plenário para exigir explicações dos responsáveis pela UPA. Nessa mesma audiência, os vereadores questionaram a atuação da equipe que atendeu Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, na noite de 11 de agosto, após a menina ser picada por um escorpião e vir a óbito no dia 12 — um caso que está sendo investigado pela Câmara por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e pelas autoridades policiais.

A nosso ver, acreditamos que as queixas da população não foram devidamente consideradas e que o resultado da pesquisa de satisfação dessas unidades de saúde pode ter sido manipulado. Isso porque, conforme noticiado nos jornais locais, a pesquisa foi conduzida por meio de WhatsApp, utilizando um centro de atendimento telefônico (CAL center) sem nenhum critério técnico de validação deste instrumento.

As reclamações cotidianas nas redes sociais sobre o atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento de Vila Cristina e Vila Sônia desconstroem a credibilidade da pesquisa, suscitando dúvidas sobre sua veracidade.

Por fim, acredito que as consequências da atual gestão pública estão transformando Piracicaba em uma “Cidade Sem Papel”, sem água e, sem perspectivas de futuro.

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José Osmir Bertazzoni, advogado e jornalista

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