João Salvador
Tomar umas biritas ou umas geladinhas é uma onda cotidiana, associada aos momentos de alegria, descontração, comemoração e relaxamento, seja com os amigos, após o trabalho, numa reunião familiar e demais eventos. Dia, local e horário, nenhum empecilho, inventa-se. A apologia ao consumo de álcool através das propagandas com bela gente bebendo na praia, seguido pelo conselho obrigatório do “beba com moderação”, não faz sentido, nem tampouco surte o efeito de conscientização. Ao contrário, incita a beber e aumentar a pressão social para os embalos e festivais eletrônicos. Quem não bebe é escanteado, deslocado do grupo, não tem conversa. Se apossa de um copo com refrigerante apenas para ouvir as barbaridades, os risos do ridículo. Um cinzeiro cheio de bitucas. O solitário ganha a função de ser o moto rista da galera, certamente para não pôr a vida dos outros em risco. Formam-se grupos de amigos mais íntimos, dando a entender que sem beber não se diverte.
Mas existem também os que bebem como escape dos problemas, das frustrações, acentuados ainda mais, quando a euforia vai se reduzindo, com o árduo trabalho do fígado para metabolizar o álcool. Os problemas voltam com maior intensidade, o cérebro pede a compensação, os neurônios se reluzem e as sinapses excitatórias transmitem os impulsos nervosos, solicitando doses ainda maiores. Mais extravagância, maior a taxa de acetaldeído no sangue, a grande ressaca e tremenda dor de cabeça. É o adictismo consumado, a dependência alcoólica, que no longo prazo, resulta em graves desacertos na saúde, podendo ser o final de linha. Existe uma lei no cérebro que retira tudo aquilo que não se usa e se ajusta ao que mais é desejado. Quanto mais se pensa na bebida, mais ele vai estimulando a beber e retirando a função do sorriso, do bem-estar, da alegria. Mais tristeza, ansiedade, medo e o desejo de “chapar” para o alívio, é cada vez maior.
Hábito e vícios são distintos. Hábito é um acondicionamento adquirido que tem certa regularidade, um costume, como tomar um aperitivo antes das refeições, um cafezinho depois, tudo administrável. Já, o vício, caminha para uma compulsão, uma grande dependência, sem o devido controle. Essa dependência une-se à abstinência, mecanismo de fuga emocional que se acentua, visando a obtenção de prazer e a extinção da dor emocional.
Um adicto pode se envolver em acidentes e violência no trânsito, cometer abusos sexuais, homicídios, suicídio e desestruturar uma familiar. O que se observa, infelizmente, é que garotada, sem distinção de sexo, está cada vez mais ingerindo bebidas alcoólicas, com base na busca pelo prazer nas mesinhas de bar e nas baladas, sem desconfiar que podem estar caindo na arapuca de um círculo vicioso, com resultado imprevisível para o futuro.
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João Salvador é biólogo; e-mail: [email protected]