Pães e Pix

Camilo Irineu Quartarollo

 

 

Em 1798, Malthus achava que não haveria alimentos para todos, devido ao crescimento populacional. A velha teoria do medo e de soluções simplistas como a deste clérigo anglicano, economista e matemático, persistiram.

Em 2016, um estudo da FAO demonstra que a produção de alimentos mundial era suficiente para prover os habitantes do planeta! Mesmo assim, cerca de 2,3 bilhões de pessoas passam fome, anota o relatório de 2021. Somos campeões em alimentos, glórias ao Agro, mas vejam os famintos!

Neste 2024, dobrou a fortuna dos cinco maiores bilionários do planeta, quais sejam: Bernard Arnaut, Jeff Bezos, Warren Buffet, Lary Ellison e Elon Musk. Se prevê que em dez anos haja o primeiro trilionário! No Brasil, os mais ricos são Lemann, Marcel Telles, Eduardo Saverin, Carlos Sicupira e André Esteves. Bom pra eles, e os pobres… né?

Tão mais fácil e cômodo se houvesse multiplicação de pães e peixes!

A tecnologia faz “milagre”, bastava pedir pelo celular e a comida viria ao deserto, cada um com sua caixinha e garfinho para o reciclável, mas os corações continuam duros como sempre. O pão sai mais caro ao assalariado.

O milagre foi abrirem mão de pães que tinham guardados para uma viagem de dias de caminhada, e dividirem com a alegria daquele momento. Foi vencer o medo da partilha e do futuro. A multiplicação de pães e peixes é o título de uma perícope, posto pelos tradutores copistas de Alexandria no século I.

A multiplicação é metáfora da partilha, não o contrário.

Ricos querem que os bens se multipliquem, mas não querem pagar um centavo de imposto, e devido, de um débito que têm com a sociedade que os enriqueceu. Alguns grandes não pagam impostos, pois, com artifícios e poder no governo renegociam multas e IPTU vencidos. Também não pagam o que é a todos devido, desoneram-se até do imposto de renda! Pobres, estes, honestos, pagam na fonte ou vão ao banco renegociar dívidas com o cartão de crédito e saem pagando mais vezes e mais juros.

Quem falou que o próprio Mercado se ajusta?! Vejam o caso das Americanas! Se Deus vê o que está oculto, o que é óbvio até nós vemos.

A cada cinquenta anos os israelitas faziam um acerto de bens, solidariamente. Retornavam os bens e as terras aos antigos donos (Levítico, 25).

O escambo, a troca de produto por outro em economias fechadas e de poucos recursos, é primitivo. A moeda ganhou protagonismo na história, mas hoje vai para o digital. A transferência por Pix é uma unidade contábil, virtual. Um valor abstrato, mas o pão é real. Por um Pix de 1,59 temos um pãozinho. Um Pix é o valor transferido, com a energia do nosso celular sem gastar com a impressão sofisticada contra falsificação.

O problema não é a falta de alimento, nem a sua multiplicação divina, é a redistribuição necessária e suficiente, por nós mesmos, abraçando essa pauta e exigindo dos governos em programas e projetos.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros, como o Crises do filho do meio

 

 

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