XV: time de safristas

Antonio Roberto de Godoi

 

“O time do XV parece time de roça: só tem safrista”, foi o comentário de um senhorzinho de uns setenta e cinco – oitenta anos, morador da zona rural de Piracicaba  que estava ao meu lado junto ao alambrado,  próximo ao túnel dos vestiários do XV, enquanto esperávamos pela saída do treinador quinzista que iria passar por ali. Esperávamos para cobrá-lo pelo futebol medíocre que nos custou uma derrota em casa.

Essa caricatura de equipe de futebol profissional do Estado de São Paulo tem tudo para nos levar de volta à terceira divisão. O que se viu no jogo contra o Linense foi um time mal montado e mal treinado.

Um time lento em pleno século 21, ano 2024. Marcação frouxa e chocha, sem incomodar o adversário que jogou livre e solto. Defesa ridícula. Só se salva o goleiro que nesse momento pode estar pensando onde veio amarrar o seu burro, como se diz cá no interior caipira. Meio campo não existe nem para marcar e tampouco para criar; não consegue reter a bola. Ataque? Só se for de risos.

O time não está treinado para sair de marcação sob pressão. Saídas de bola, só na base do chutão. Ridículo. Achamos um gol de falta no final do primeiro tempo numa falha do goleiro que estava mal colocado.

Conseguiram montar um time pior do que do ano passado. Tirando o goleiro  e mais um ou dois jogadores, o restante é assustador. São jogadores que não poderiam vestir a camisa do XV. Tiveram três meses para montar um time e montaram um time muito limitado. Fora o condicionamento físico pífio. Qual o objetivo da diretoria? Rebaixamento para a A3? É a única explicação. O próximo jogo é em casa, e se perder novamente, é melhor que o técnico caia. Aqui é XV.

Não se desmonta completamente uma equipe que chegou a duas semifinais na temporada passada.   Por si só, foi grande trabalho e grande milagre do técnico Cléber Gaúcho, diga-se. A equipe era infinitamente mais competitiva, mais raçuda e tinha espírito de XV e de Piracicaba. Ela deveria ser complementada, reforçada, e não desmontada. Essa caricatura aí é imagem e semelhança do treinador que trouxe os jogadores que quis e está jogando um futebol ultrapassado.

E a diretoria? Qual o seu papel nesse momento em que a sensação que temos é a de que caímos no “conto do vigário”? Quem gasta mal, gasta duas vezes; e nem sempre se conseguem os resultados. Fora o prejuízo.

Enquanto isso, a impressão que se tem é de que a imprensa esportiva passa  pano para tudo isso. Passa  pano no elenco, no treinador e na diretoria. Saudades do Rádio esportivo de Piracicaba de grandes nomes. Não era um Rádio de fazer médias e passar pano. Cumpriam seu papel crítico. Amavam o Nhô-Quim. As rádios Difusora, A Voz Agrícola do Brasil e Educadora eram usinas de excelentes profissionais. Muito competentes. Conhecedores do esporte. E muito críticos. Fundamentadamente críticos. Construtivamente críticos.

Enquanto isso, também, as nossas torcidas organizadas parecem estar anestesiadas. Parecem não terem forças para protestar. Parecem aceitar de forma incompreensível a derrocada que se aproxima. É desânimo arrebatador ou há algum acordo com a diretoria para “segurar a onda”? Como podemos saber? A omissão é constrangedora. Elas parecem não cumprir o papel de cobrar, num silêncio que mais parece um aliciamento.

Fica a sensação de que estamos no fim da picada. Ou talvez seja mais interessante estarmos na terceira divisão: elencos muito baratos, pouca despesa e milhões do Beraldo em mãos, tudo para sermos show de bola.

Vamos aguardar. A desgraça está na espreita. Nesse caso, só fé não salva. É preciso atitudes. Com esse jogo e essa equipe, me desculpem, mas não vai a lugar algum. Pura realidade. Infelizmente. Sentiria imenso prazer em queimar a língua.

Clamo ao quinzista raiz que vá ao estádio nesta quarta-feira, 24, à noite fazermos a nossa parte.

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Antonio Roberto de Godoi, ex-radialista e pesquisador

 

 

 

 

 

 

 

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