José Renato Nalini
Quando se aceita que o déficit possa aumentar, levando o Brasil ao pesadelo da dívida externa, como já vivenciou em outras épocas, é difícil acreditar que o país jogue dinheiro fora. E é isso o que acontece ao perder bilhões de dólares que aqui entrariam, houvesse concreta e segura redução de carbono.
O mundo civilizado compreendeu que o maior perigo que ronda a humanidade é a mudança climática gerada pelo efeito-estufa. Por isso os grandes conglomerados cuidam de canalizar recursos para manter as florestas tropicais e para atingir metas de emissão dos gases venenosos. Não é manter por manter a cobertura vegetal. É manter para preservar a vida e para ganhar dinheiro fazendo o bem.
Tal missão não é impossível, mas é também necessária e urgente. Quem diria que os satélites nos mostrariam várzeas secando, a região mais privilegiada com água doce em todo o planeta ostentando seus rios desaparecidos? Que o pantanal, zona essencialmente líquida e úmida, pegaria fogo?
O Brasil já mostrou ser capaz. Reduziu o desmatamento entre 2004 e 2012, que deve agora ser zerado. Não só isso: temos déficit de mais de um bilhão de árvores. O replantio é urgente. Mais de um quarto das matas já foi destruído. O restante vive constante ameaça de vir a sê-lo. Descarbonizar a economia é o projeto do mundo racional e sensato. Infelizmente, ainda há nichos de irracionalidade e insensatez, naqueles espaços que continuam a guerrear e a semear morte e devastação.
A burocracia e a voracidade em obter cargos e verbas impediram que o Brasil alcançasse a civilização para regularizar o mercado de crédito de carbono. Descuida do aproveitamento da economia verde, ignorando e desprezando mais de cinquenta e quatro produtos que poderiam ser exportados e trazer equilíbrio para a balança comercial. Não estimula a bioeconomia e aceita como fatalidade ser vendedor de comodities, sem agregar valor, o que os estrangeiros fazem e ganham por cima de nossa dadivosa biodiversidade.
Se o Brasil tivesse juízo – e parece que não tem – haveria mutirões para colher sementes, fazer viveiros, distribuir e plantar mudas. Pode-se viver sem petróleo. Sem vegetação e sem água não se vive. Mas não levamos isso a sério. Quando chegar, a fatura será pesada e perversa.
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José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras