Evaldo Vicente
Criação é para todos, mas bem feita não é para qualquer profissional desavisado, que não tem imaginação necessária. Criar é para quem sabe e, no caso da professora Marly Therezinha Germano Perecin, há uma identificação plena da História — da qual é mestra — e das histórias que completam os personagens.
“Rosarinho”, vida romanceada de Maria do Rosário (1845-1904), tem todos os detalhes da história piracicabana, a partir de Itu, a metrópole. Piracicaba era o sertão, dos tempos da lei do senador Euzébio de Queiroz, na metade do Século XIX. “O Oeste Paulista apavorava os mais fortes”, escreve Marly, para colocar em cena o capitão João Lúcio de Almeida, “que buscava uma escrava doméstica para a sua esposa, prestes a dar à luz”. Era a perfeita: “Beija-lhe a mão: bença, sinhá”, completa.
O romance “Rosarinho” envolve histórias de quem fez História em Piracicaba, como Luiz Vicente de Souza Queiroz, Prudente José de Morais Barros, os Paes de Barros, além da fábrica de tecidos (leia-se Boyes), estrada de ferro, fazendas e cidades que se despontavam, como Capivari.
A história de vida e amor de Rosarinho corre por esse tempo da História. O Brasil era sacudido com a publicação de “Os Sertões”, de Euclydes da Cunha — lançado em 1902 —, com as denúncias sobre os crimes da jovem República que o autor não fizera como jornalista de “O Estado de São Paulo”. No matutino, que foi “A Provícia de São Paulo” na Monarquia, o autor de “Contrastes e Confrontos” relatou, como correspondente, as “glórias” do Exército do Brasil, sob a presidência de Prudente de Moraes, doente, mas Manoel Vitorino no exercício do cargo.
E, em 1904, Rosarinho — cujas dores e grandezas estão detalhadas — morreu. Sua vida, nesse romance, é a viagem do sertão de Piracicaba, passando pela metrópole Itu e também pelo Rio Grande do Sul, a antiga Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, especialmente na cidade de Alegrete.
É mais uma viagem da professora Marly no “Encontro das Águas” que fizera outras três com Maria dos Anjos,Maria Pituca e Mariana Dias, colocando nesta quarta Maria do Rosário, histórias que asseguram a grandeza das mulheres, das quais “tudo lhes foi tirado, sem que perdessem a coragem e a dignidade”. E não perdem, não perderão!
“Há muitas outras histórias que ainda não foram contadas”, escreve a professora Marly em seu pósfácio, “esperando por alguém mais afortunado”. Mas quem? Marly, a professora e mestra em História e histórias, poderia contar pelo menos mais uma? O Vale Médio do Rio Tietê, especialmente Piracicaba, espera por isso e agradece sempre.
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Evaldo Vicente, jornalista, diretor de A Tribuna Piracicabana, membro da Academia Piracicabana de Letras (APL) e do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP)