Os albores da Democracia

Camilo Irineu Quartarollo

 

Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil!

No final de 2022, o palácio Alvorada, foi deixado praticamente às moscas por Bolsonaro, como mostra o inventário do lugar. Na área interna do palácio, a má conservação e rachaduras dos pisos de madeira jacarandá, assoalhos soltos, carcomidos, vidros rachados, cortinas imundas, poltrona de couro rasgada, tapete com buracos, o teto com marcas de umidade pelas infiltrações, sem as reformas usuais de reparo, sem pinturas ou polimento nos móveis de madeiras ou de metais. Os quadros afixados em ambientes inadequados, deteriorando com o sol e calor, arte sacra do século XIX pelo chão – mesa da sala lascada nos cantos, salas espaçosas desguarnecidas dos móveis originais e a ausência do livro de registro de patrimônio.

Quando deixou o governo em 2016, Dilma foi profética: “…O golpe vai atingir indistintamente a qualquer organização política progressista e democrática.”

Michel Temer deixou-se ficar no palácio do Jaburu, sem pôr os pés no Alvorada e seu sucessor Bolsonaro ocupou a sede do governo como um clandestino. Sem passar a faixa ao eleito em 2023, tal qual fez o presidente Figueiredo em 1985, e tantos ressentidos com a democracia.

O capitão se dizia contra tudo da ‘velha política’. Contudo, Bolsonaro arregou totalmente, até mesmo deu a Casa civil ao ‘centrão’ e a administração do executivo aos deputados através do orçamento secreto. Na diplomacia, deixou-nos como párias. Na Saúde, coveiros da COVID. Foi uma péssima governança, de passeios de motociatas, jet-ski, rispidez e bravatas contra jornalistas, notadamente mulheres.

O orçamento do país estava praticamente nas mãos dos deputados – não nos consta que o legislativo exista para administrar orçamento! Identificam-se no ‘centrão’ a BBB (Bíblia, Bala e Boi), os quais defendem exclusivamente seus interesses a qualquer custo, o povo é um detalhe. Com o orçamento nas mãos dos deputados cada um pode fazer seu projeto pessoal de reeleição, um campo de futebol ou parque, paliativos eleiçoeiros. O executivo precisa do orçamento próprio para projetos de infraestrutura nacionais e estratégicos, como grandes estradas férreas ou de rodagem, de impacto econômico e gerador de empregos, de pontes, de prevenção a enchentes. Isso não se consegue diluindo verbas entre parlamentares.

Na gestão bolsonarista, escândalos de gastos com próteses penianas para o exército, sessenta delas no valor de R$ 3,5 milhões, cujo uso se supõe não era  para pracinhas, além de outros itens exóticos que o cidadão comum jamais viu. As joias e os relógios sauditas marcavam o fim dessa gestão perdulária e dos negócios das arábias.

No dia oito de janeiro de 2023 foi evidente a afronta dos “patriotas” ao estado democrático. Entraram nas sedes dos três poderes para depredar, espoliar tudo, e para impor ao Brasil uma ditadura.

Não conseguiram… A Democracia nos é sagrada.

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

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