Qual a origem das controvérsias entre os dogmas religiosos?

Alvaro Vargas

Entre as religiões institucionalizadas no mundo, três destacam-se pelo número de adeptos, respectivamente, o Cristianismo (Igreja Católica Romana e as Reformadas) com 2,4 bilhões de fiéis, o Islamismo (1,8 bilhão) e o Hinduísmo (1,1 bilhão). A Igreja Católica Romana, desde que se tornou a religião oficial do império romano, afastou-se do Cristianismo primitivo ao mesclar-se com o politeísmo e criar vários dogmas ao sabor dos teólogos da época. Entre esses, destaca-se o conceito de que Jesus é Deus, concebido sem o intercurso sexual, uma entidade trina (Pai, filho e Espírito Santo). Conhecido como o dogma da Santíssima Trindade, essa invenção plagia as antigas seitas orientais.

As Igrejas Reformadas, embora concordem com muitos dos dogmas da Igreja Católica, refutam a tese da Santíssima Trindade. O Espiritismo não aceita a trindade de Deus e considera Jesus um Espírito Puro, nosso irmão maior, e que não Deus. Além disso, assume que Jesus teve uma reencarnação similar à toda a Humanidade terrena. Com relação à vida após a vida, todas as religiões cristãs, à exceção da doutrina espírita, pregam a existência de um inferno para os “pecadores”, sugerindo um Deus falível e sem caridade, que cria almas sujeitas ao fracasso e às torturas por toda a eternidade. Essas mesmas correntes religiosas, por outro lado, apresentam para almas justas, um Céu contemplativo e ocioso, o que difere da interpretação da doutrina espírita, que assume um mundo espiritual equivalente à sociedade terrena, no qual existem cidades, universidades etc.; onde todos trabalham e estudam, até retornarem à Terra pela reencarnação. Os reformadores, entre eles Martinho Lutero (1483-1546), conseguiram eliminar muitas das práticas equivocadas da Igreja Católica Romana, mas mantiveram a crença do Deus Vingativo, que condena os pecadores ao inferno eterno e reserva um paraíso ocioso para os eleitos.

O Islamismo, instituído pelo profeta Maomé (571-632), que mediunicamente transmitiu as mensagens contidas no Alcorão, apresentou Alá (Deus), que pune os pecadores no fogo eterno do inferno e, diferentemente do Céu descrito pelas igrejas institucionalizadas cristãs, promete um paraíso erótico para os eleitos, com 72 virgens. No Hinduísmo existem 330 milhões de deuses, e um “Deus” supremo (Brahma), em três formas distintas (semelhante ao dogma da Santíssima Trindade). Porém, nenhum pecador é condenado ao inferno. A retificação das iniquidades cometidas ocorre através da reencarnação, similarmente ao Espiritismo, mas difere, ao admitir a reencarnação expiatória em animais e plantas (metempsicose), pois, o Espírito nunca retrograda e sempre evolui.

No caso do Hinduísmo, que tem a sua origem nas tradições védicas (6.000 a.C.), mesmo com os seus dogmas incoerentes, foi um grande avanço em religiosidade, considerando o nível evolutivo da sociedade daquela época. Contudo, para o Cristianismo e o Islamismo, que possuem as mesmas raízes no judaísmo, as diferenças dogmáticas existentes não se justificam. Provavelmente, como Jesus e a sua Boa Nova não foram reconhecidos pelos judeus e existia certa influência do Judaísmo na Península Arábica, isso contribuiu para ausência de importância que Maomé conferiu ao Mestre Nazareno. As disparidades dogmáticas entre essas religiões poderiam ter sido evitadas, se não fosse a ignorância e a vaidade dos teólogos, criando dogmas sem sentido e se não existissem limitações morais e intelectuais dos médiuns, na interpretação das revelações do mundo espiritual. Felizmente, Jesus voltou e nos revelou o Consolador (João, 14: 15-17, 26), o Espiritismo, resgatando a essência dos seus ensinamentos e eliminando as inconsistências dogmáticas. Reafirmou que Deus é um pai justo e Bom, e não existem pecados sem remissão, pois, temos a oportunidade de saldar os nossos débitos junto a justiça divina, através da reencarnação, evoluindo até nos tornarmos Espíritos puros.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

 

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