Dormindo em lençóis alheios

Eloah Margoni

E não apenas isso. Comendo o pão que mal produziu, vivendo da antiga glória, nem tão merecidamente sua. Quanto aos louros são eles do grande Luiz de Queiroz, homem valoroso e adiante do seu tempo, cheio de generosidade e idealismo; amou Piracicaba. Sonhava, mas com os pés firmes no solo. Já a Esalq… já a Escola que “criou”… O que pensaria desta, hoje em dia, tal figura digna e especial, ao ver um lugar apartado dos grandes e reais problemas da cidade e região?  Repleto de palacianos, pouco úteis à comunidade, vivendo somente seus interesses pessoais e carreiras acadêmicas, como se noutro mundo estivesse edificada a Escola.

Verdade que há reconhecidas e benditas exceções. O pessoal da agrofloresta e da sustentabilidade, os que se colocam e colocaram contra os transgênicos, como o saudoso Dr. Paulo Kageyama. O professor Demóstenes que falou em Audiência Pública, sobre o “Projeto de Reforma da Praça José Bonifácio”, proposto pela Prefeitura Municipal. Tão bem defendeu a necessidade de arborização do centro, a estética arquitetônica e a criação das ilhas verdes na cidade! Mas em resposta às palavras do professor, a Simapi (antiga secretaria do Meio Ambiente, fundida à de Planejamento) promove chacina de árvores do centro agora mesmo, em plenos feriados de Natal e ano novo, mostrando todo o escárnio e o desprezo que, indiretamente, sente pela Esalq.  Dá pra entender até. O que a encastelada Escola faz, neste sentido, enquanto instituição? Nada.

Os alunos, que são centenas, por que não se manifestam, não lutam contra a atual administração municipal, inclusive culturalmente tão nefasta? Sem querer, com isso, sairmos aplaudindo indiscriminadamente, por comparação, gestões anteriores… Mas por que não apresentam aqueles ligados à Esalq, soluções racionais? Trotes violentos e humilhantes fazem, sabemos.  Será que já treinam para ser cidadãos alienados e indiferentes?

Corpo discente e docente não se movem com vigor, como elite científica que deveriam ser. Cultivam inércia apavorante em muitos aspectos. Há exceções, claro; profissionais “fora da curva”. Vemos colegas atuantes que se destacam desse conjunto paralisado. Eu mesma sou uma dessas exceções enquanto ex-aluna, quero crer. E lembro aqui de uma grande defensora das árvores, professora da Horticultura que muito nos apoiou na trajetória ambientalista, Dra. Ana Maria Liner, entre outros personagens.

Há questão da monocultura local, de conservação do solo e das nascentes, dos loteamentos clandestinos que pululam por toda parte na zona rural. E os venenos! abuso desta maldição, sob o nome inocente de “defensivos agrícolas”. Onde será que esalqueanos moram? Na lua?

Ái, minha antiga e linda escola, onde vivi importantes dias e vi paisagens deslumbrantes! Seus prédios e pores de sol. Quando a revejo, ou dela me recordo, admiro cada vez mais Luiz de Queiroz e, infelizmente, tenho enorme pena de sua desonrada memória. Ele não merecia tal desfeita que diariamente, e sem pudor, lhe dedicam.

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Eloah Margoni, médica

 

 

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