Eloah Margoni
Não menos assustadoras as trevas mesmo que simbólicas, tal filmes de terror, vampiragem. Trinta Dias de Noite, boa essa obra de ficção, mas odiamos o real, o mais concreto ataque em massa à nossa cidade. É muita pornografia urbana para que se possa suportar. Matanças sim de espécies arbóreas, grande número de indivíduos destes vegetais abatidos; há até listas de extermínio. Perseguição voraz às seringueiras, impermeabilização do solo aqui, ali, acolá, destruição de praças para transformarem em estacionamentos de igrejas, eliminação contínua do patrimônio histórico, invasões de áreas verdes para se fazerem “decks” com mesas de bares. A cidade convulsiona, esquenta, ferve, há calor insuportável, chuvas violentas; muitos nem se importam, dão de ombros…
Nos projetos imbecis apresentados à comunidade, só baboseiras vexatórias e bastante de “me engana que eu gosto”. Os olhos dessa gente lacrimeja de ganância, as bocas babam em desejo por ações nefastas e prejudiciais à população e à Piracicaba. Para que? para quem? supostos benefícios próprios, ainda que voláteis e imaginários? Mas eles deliram e alucinam, lubrificam as caras de pau vindo a público, mostram rabiscos e bobagens a guisa de planos urbanísticos; vide o de reforma da Praça José Bonifácio e os projetos (por parte de particulares) para construção de quatro vezes noventa metros verticais de indecência na antiga fábricas Boyes. E não só senhoras e senhores, crianças, jovens e anciãos, não só; também derrubando ao solo edifícios históricos da referida fábrica. Ideias de estripulias estapafúrdias com o aval metido a engraçadinho – mas bem sem graça- do Codepac.
Na última Audiência Pública lá na Câmara de Vereadores, sobre a duplicação da avenida Alidor Pecorari, que vergonha! Então os “técnicos de carreira” da Semutran, “competentes e consequentes”, dizendo planejar a Pira do futuro ainda não sabem, nem desconfiam, que a frota de automóveis cresce exponencialmente e que nunca, jamais, em tempo algum haverá vias que satisfaçam as latarias motorizadas trafegantes? Vão soterrar casas, bairros inteiros e todo o rio Piracicaba sob viadutos ou avenidas, que levarão gente desesperada de pontos deprimentes a lugar nenhum? De que planeta vieram estes planejadores urbanistas tão distópicos?
Dolorosamente temos de admitir: existe muita ignorância na cidade. Se não houvesse, teríamos outro Legislativo e outro Executivo também, ambos sintonizados com a saúde física e mental da população, com a modernidade no sentido lógico e digno da mesma, com o que é bom para todos, viver e bem respirar.
Bastante ignorância sim, tacanhez, mas igualmente há em Piracicaba forte resistência. Elite pensante significativa que reage, luta e lutará com muita garra, para salvar nossa Noiva da Colina dessas trevas nojentas. E para quem se aborrece e sofre com nossa valentia, desejo de coração e vesícula, uma boa, prolongada, intratável e profunda insônia em todo o ano de 2024.
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Eloah Margoni, médica