Primeiro a ecoansiedade

José Renato Nalini

O excessivo calor é a prova evidente das mudanças climáticas. Os céticos, por duvidarem mesmo, ou até por provocação, costumavam dizer que o aquecimento global era uma falácia, já que houve dias frios em algum inverno. Hoje, nem isso podem dizer. O mundo está pegando fogo. E não é só em linguagem figurada. Quantos incêndios são registrados em todo o planeta e aqui também?

Natural que os mais sensíveis sintam um desconforto que vai além do efeito das altas temperaturas. Se isso angustia e causa apreensão, o sentimento tem nome: ecoansiedade. É um verbete definido pela Associação Americana de Psicologia, incorporado pelo Dicionário de Oxford e é citada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

De acordo com o dicionário ortográfico elaborado pela Academia Brasileira de Letras, é o “estado de inquietação e angústia desencadeado pela expectativa de graves consequências das mudanças climáticas e pela percepção de impotência diante dos danos irreversíveis ao meio ambiente”.

Somente os totalmente ignorantes ou os mal-intencionados conseguem negar que exista medo em relação àquilo que ainda vai acontecer. Medo intensificado pela crueldade com que as pessoas tratam a natureza. Constatar que quase toda a mata que circula as áreas ocupadas por indígenas está destruída na Amazônia, que áreas crescentes da Floresta Amazônica já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, que a biodiversidade se extingue e que Estado e sociedade nada fazem, só pode frustrar pessoas amigas do ambiente.

Os Estados Unidos, que são muito ciosos e gostam das estatísticas, nas quais têm expertise, a Associação Americana de Psicologia apurou que mais de dois terços dos adultos – mais exatamente, 68% – são afetados pela ecoansiedade. Os mais prejudicados são os mais jovens, exatamente os que mais se sentem infelizes com a devastação ecológica.

E não é só. O aumento do nível do mar, o derretimento das geleiras, a morte dos corais, as emissões em alta, desmate em todos os biomas e até pandemias, tudo mostra que já atingimos o ponto sem retorno, o chamado ponto de inflexão. Até as crianças estão impressionadas e se dizem extremamente preocupados. Emoção, tristeza, ansiedade, raiva, impotência, desamparo e culpa. Tudo isso passa a ocupar a mente dos humanos que ainda não perderam a noção da realidade e conservam sua consciência saudável.

Já ultrapassamos a fase da ecoansiedade. O pior, infelizmente, ainda virá.

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José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

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