TUDO SOBRE O NADA

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

 

Quase todo o Universo é formado de puro vazio. E esse vazio completo – o nada – é muito mais pesado que todo o resto do cosmos. Não entendeu? Os cientistas também não. Mas a história por trás disso é fascinante.

A história das descobertas sobre o Universo tem sido uma humilhação atrás da outra para a humanidade. Um resumo: há 2 mil anos, imaginava-se que éramos o ápice da criação e nosso planeta, o centro do mundo. Mas a Terra acabou se revelando um dos muitos súditos do Sol, e o Homo sapiens, um neto recente na genealogia dos macacos. Até o Sol, que foi um símbolo da divindade em outros tempos, não passa de um grão de poeira brilhante entre incontáveis estrelas. O orgulho humano ficou reduzido a praticamente nada.

Mas eu disse nada? Não foi por acaso. É que não chegamos ainda ao fundo do poço – e o fundo do poço é justamente o nada. Nadinha de nada. Elimine todo tipo de matéria ou de radiação, até os gases mais rarefeitos e as menores partículas atômicas. Agora estenda a limpeza aos quatro cantos do espaço. Você criou um Universo vazio. Claro que isso é um absurdo – algo como uma laranja sem gomos nem casca. Mas vale a pena insistir nessa experiência imaginária porque os cientistas que estudam o Universo fizeram algo parecido com ela. O que descobriram é, ao mesmo tempo, difícil de acreditar e praticamente impossível de contestar. Eles chegaram à conclusão de que, se você tirar tudo o que é possível do cosmos, todas as rochas, galáxias, átomos, luz, ele continua pesando três quartos do que pesava antes. Restam 71% da massa original.

Nenhuma pessoa sensata aceitaria a sugestão de que essa é a massa do nada. Só que os físicos, cosmologistas e astrônomos não são pagos para terem bom senso – sua obrigação é investigar o cosmos com rigor e descobrir do que ele é realmente feito, por mais estranho que possa parecer. Eles não têm dúvida de que esse nada, também chamado de energia escura, existe. Mas nem essa gente tão acostumada a surpresas esperava que essa energia fosse a maior coisa que existe, a ponto de carregar, sozinha, três quartos da massa do Universo. O Universo é quase todo nada.

Esse paradoxo é o mais impressionante e assustador de todos os pesadelos para o velho e cada vez mais distante sonho da humanidade – o de decifrar os segredos do cosmos. As descobertas são mais um golpe duro no nosso orgulho. Até porque, mesmo entre aqueles 29% que sobram quando excluímos o nada, 24% são, na verdade, um tipo bem estranho de substância: a matéria escura, sobre a qual não sabemos nada, só o fato de que é feita de átomos. Nós – as coisas feitas de átomos, como pessoas, planetas, estrelas e galáxias – não passamos de 5% do total. Essa é a verdadeira medida da nossa insignificância cósmica.

“Quem garante que, neste exato momento, o Universo não está prestes a ser tragado para dentro desse vazio?”, afirma o astrônomo americano Sten Odenwald, com a preocupação típica de quem sabe demais. “E se algum acidente nos laboratórios nos atirar para dentro do nada?” Logo na abertura de seu livro, Patterns in the Void (“padrões no vácuo”, sem edição no Brasil), Odenwald compara a descoberta do nada às “constelações negras” dos incas – que, em vez de traçar desenhos no céu ligando as estrelas, admiravam e temiam as manchas escuras do firmamento, formadas pelas áreas sem estrelas. Estaríamos agora numa situação parecida: passamos séculos estudando pontos de luz, para agora descobrir que eles são meras exceções num cosmos repleto de sombras. para finalizar sobre a pergunta mas o que é matéria e a melhor resposta é tudo que existe independente da consciência do homem por exemplo Sombra é matéria certamente que sim como explica o texto em epígrafe e Deus é matéria claro que não pois só existe dependente da consciência do homem.

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico

 

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