O projeto de construção de um empreendimento residencial e comercial na antiga fábrica de tecidos da Boyes, localizada na rua Antônio Correa Barbosa, próxima à Ponte Pênsil que atravessa o rio Piracicaba, voltou a ser tema de discurso na Tribuna Popular da Câmara Municipal de Piracicaba na noite desta segunda-feira (27), na 68ª Reunião Ordinária de 2023.
“O processo com relação ao terreno da antiga fábrica Boyes segue o rito da especulação imobiliária atrelada à especulação financeira, que tem resultado na construção, com muito dinheiro, das cidades mais horrorosas do mundo. Temos produzido um lixo urbano sem precedentes na história e pouco inteligente”, falou Paulo José Keffer Franco Netto, o Pazé, artista visual e engenheiro agrônomo, representante do movimento “Salve a Boyes”.
De acordo com o orador, após tomar ciência do projeto que prevê a construção de torres residenciais “de mais de 90 metros de altura, na beira do Rio Piracicaba, a sociedade civil se mobilizou e passou a se organizar em defesa do trecho mais significativo e de maior beleza do seu rio icônico”.
Para ele, a construção do empreendimento nestes moldes, “em área tombada como patrimônio histórico e cultural do município”, descaracterizaria a paisagem natural e arquitetônica da cidade.
Ele citou como exemplos de preservação paisagística cidades europeias como Londres, Paris, Barcelona, Roma e Veneza, que “possuem não mais do que cinco andares nas suas áreas centrais e de maior beleza”, assim como Miami, nos Estados Unidos, em que, de acordo com ele, “cada novo edifício é analisado com critérios: critério em estilo do entorno, uso de materiais empregados, tamanho e distâncias entre as janelas e análise das construções vizinhas, para a cidade ter um ritmo, como uma música, para quem se desloca”. Pazé, na sequência, acrescentou: “de Chicago a Los Angeles, os arranha-céus estão localizados em áreas muito específicas. Jamais um projeto como o proposto para a Boyes seria aprovado por lá”.
O orador ainda lembrou de outros prédios e locais históricos de Piracicaba, como o do Centro Cultural Martha Watts, localizado na rua Boa Morte, no centro, “exemplo com o trato do patrimônio histórico”. Ele, no entanto, ponderou que outros edifícios construídos nas proximidades alteraram significativamente as características arquitetônica daquela área:
“Na esquina da rua Boa Morte com a Rangel Pestana se construiu um arranha-céu que liquidou a paisagem e a influência do conjunto daquela quadra e, na esquina seguinte, junto à rua Dom Pedro II, outro arranha-céu terminou por sepultar qualquer beleza e equilíbrio visual nesta importante quadra histórica, que deveria ser vista e contemplada à distância. A cidade só perdeu. Esses edifícios faziam parte de um entorno ainda muito mais amplo e abrangente, o antigo Mercado Municipal, de 1888, já demolido, que com ele conversava”.
Ele, por fim, concluiu: “os arranha-céus deveriam ser apenas permitidos foram das áreas de importância histórica e arquitetônica, como em qualquer país que preze por sua cidade. Como sugestão, os edifícios poderiam ter um gabarito máximo, que não ultrapassasse uma árvore subtropical adulta, referenciando a história da cidade que se notabilizou mundialmente pela qualidade das suas pesquisas agronômicas e ambientais.