Novo tempo

João Salvador

 

Diante do bombardeio de informações, de questionamentos, novidades e necessidade de se adaptar ao dinamismo e da organização das ideias para cumprir metas, o recrutamento de profissionais ajustou-se na seleção dos mais bem preparados, os mais talentosos, de maior agilidade na mente e nas pontas dos dedos. Hoje as digitais podem ser obtidas pelos teclados dos computadores e celulares.

Os benefícios do crescimento não se repartem devidamente. De um lado, um contingente incapaz de lidar com a escrita, e, de outro, uma porção adulta, quase analfabeta, incapaz de se integrar à vida econômica e jogada à informalidade trabalhista.

O estreitamento entre os povos vem sendo cada vez mais abrupto, de desenvolvimento disforme das populações com os explícitos desarranjos operacionais, incompatíveis com um sistema exigente nos ajustes e correções em curtíssimo prazo, antes em conta-gotas.

É um reboliço, grande turbulência emocional. As empresas nacionais tiveram que se enquadrar na ordem mundial para a obtenção, a qualquer custo, a vantagem competitiva, a excelência na qualidade e inovação dos produtos e serviços, à base de muita imaginação e criatividade.

Desencontros e desejos reprimidos pelos ajustes às normas exigidas pelo mercado, que se acumulam e as crises emocionais, também. O uso de drogas lícitas e ilícitas pelos jovens que não contemplam um futuro promissor aumentou, além da violência urbana. Para os medianos, perdidos no meridiano das incertezas, o desconforto gera práticas compulsivas, como as de comprar, comer, abrir geladeiras e consumir. Para os mais velhos, que não conseguem administrar tantas mudanças, o medo do desconhecido é amenizado com os antidepressivos, ansiolíticos e psicoterapia.

No conceito de carreira, trabalho e estresse andam juntos, e os altos níveis de colesterol, das toxinas, em razão das dietas desbalanceadas e da falta de exercícios físicos, se elevam. Não há tempo a perder. O diálogo familiar virou um monólogo desconfortante. O espírito competitivo, do egoísmo e da frieza, impede até uma conversa franca entre os colegas de trabalho, pelos riscos de “tocaias profissionais”.

Ser forte, persistente, é ser moderno, bater de frente com um novo tempo. Outros, porém, não conseguem administrar certas situações e buscam ajuda sem perceber que o ajudante também é vítima da correria, de condições inapropriadas.

A mente humana tem a tendência compensatória para absorver as mudanças, mas em um concorrido e curto espaço de tempo, o desbalanço vital eleva os transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade, angústia, pânico, síndromes dos tempos modernos. Mas a capacidade de adaptação está ligada à cultura. Os mais comprometidos com as ideias e resultados, têm dificuldades em manter o equilíbrio, pois a cobrança exagerada de dedicação ao trabalho, compromete-lhes os fins de semana e as férias.

As transformações devem ser bem-vindas, porém bem administradas, mesmo com alto custo emocional. Afinal, o mundo ainda está na adolescência na economia, nas comunicações, dentro de uma força progressista, impulsionada pela revolução tecnológica, da inteligência artificial, permitindo maior intercâmbio cultural.

Enfim, de acordo com a letra de uma música, neste novo tempo, apesar dos castigos, dos perigos, da força bruta que assusta, estamos crescidos, atentos e mais vivos, na luta para nos socorrer, para sobreviver.

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João Salvador, biólogo

 

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