Sobre Árvores e Tempestades

Eloah Margoni

Em Audiência Pública na Câmara de Vereadores, sobre o projeto de reforma da Praça José Bonifácio em 10/11, representei a Sodemap (Sociedade para a Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba). Escrevo agora na qualidade de cidadã somente, de articulista eventual.

Críticas ao estado da cidade, à sujeira das ruas e da praça central, aos maus tratos e ataque às árvores, foram gerais e abundantes. As agressões aos elementos arbóreos não vêm de hoje porém. Permeiam décadas. Boa parte das podas aberrantes e fragilizadoras, para as quais a administração pública sempre lava as mãos, fecha os olhos, são feitas pela CPFL. Mas cabe à mesma administração normatizar, fiscalizar, bem orientar e até restringir a autorização da referida empresa se os absurdos persistem.

Outros agravos se devem à negligência e desinteresse em relação às reais necessidades dos vegetais, em termos de espaço, de tamanho de covas, de desinfecção das “feridas” após poda dos galhos, etc… E há a descarada destruição de locais, como a antiga Praça da Forca, a Antônio de Pádua Dias, transformada em estacionamento inundável, num acinte ambiental, cultural e histórico. Os técnicos assinam tais laudos para extirpar tantos elementos arbóreos saudáveis? Ou não precisam assinar se a determinação de morte das mesmas vier “de cima”? A lenha é considerada mais importante e útil provavelmente.

Representante do poder público, presente na Audiência, agastou-se com a fala. Agradeço-o. É doloroso quando coletivamente “ganhamos” uma Audiência, e um mau projeto segue seu curso assim mesmo. Foi bastante gentil ficar incomodado, ao menos. No mais, se os técnicos de carreira seguem protocolos modernos para supressão de árvores, talvez as faculdades de engenharia agronômica e florestal é que devam mudar muito. O respeito e extrema consideração às árvores adultas é essencial, não importa quantas mudazinhas sejam plantadas. Na odontologia não se extraem dentes com cáries, como se fazia há cem anos. Cirurgias gengivais, aproveitamento de raízes dentárias, implantes, ortodontia, estética, clareamento, tudo é feito. Em medicina tampouco se amputam dedos por unhas encravadas ou pernas que apresentam úlceras, erisipelas, fungos. E o que diríamos das hérnias de disco, das doenças coronarianas, cálculos renais, acidentes e fraturas? Já as árvores ganham o carimbo de “condenadas” por tudo e por nada, até por mera inclinação de quarenta e cinco graus, ou um pequeno oco qualquer. Que realidade mais atrasada, distópica e lamentável! É por isso que o aquecimento global e as mudanças climáticas vieram com tanta fúria. E vão piorar. Se as faculdades referentes à silvicultura, arborização urbana, composição de hortos continuam nesse ritmo, nem Deus quereria nos salvar.

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Eloah Margoni, médica

 

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