Noedi Monteiro
Diversidade cultural, antirracismo, decolonialidade e revisionismo histórico-cultural por tempo indeterminado reúnem-se firmando um pacto antirracista interagindo como um paradigma com a filosofia destinada a tratar de forma descolonizada e repelente não a curto, médio e longo prazo, sem meio-termo mas repentinamente o racismo, à intolerância, o preconceito, a discriminação e o ódio que têm como mantenedora à Colonialidade, umas remanescências da colonização (eurocentrismo) na contemporaneidade. As visões de mundo e as ações em comum da coalizão com as respectivas dinâmicas, espírito científico, social e práticas epistêmicas impõem-se com muita ciência e conhecimento no campo dos direitos civis, humanos e das relações étnico-raciais a fazer justiça, aliviando, o estigma social e a reparar à uma só mão, voz e vez, o silenciamento, apagamento, e a invisibilidade negra, indígena, suas culturas e lendas no universo do saber brasileiro. São dos mecanismos pedagógicos, culturais, dos movimento sociais de rua e da pressão popular, da crescente conscientização e do debate decolonial aplicado à educação e no politicamente correto o ônus da convergência histórica do mundo, num grande desafio e avanços, de descolonizar o nosso meio brasileiro e a sociedade moderna no Ocidente.
Precisamos aproveitar à oportunidade única que deveras nos favorece o tempo e a realidade para, revolucionarmos o meio-campo, virar o jogo e o placar mesmo que numa prorrogação, com a chance dos vencidos se aclamarem pela primeira vez num podium antes, que a janela temporal expire e seja tarde demais.
A colonialidade por sua origem e pelo enraizamento na sociedade brasileira temos clareza, de que não será nada fácil arrancá-la do nosso meio. Mas poderemos, continuar a inibi-la, driblá-la como vem fazendo com sabedoria o protagonismo negro de maneira que, os avanços que se têm alcançado não possam ser revertidos. Jamais recuaremos!
Apesar da população majoritária de 56% (IBGE) negra do país surpreender à classe dominante, que no seu seio deve contestar o resultado ou ridicularizá-lo, por outro lado, não leva o índice a sério, por não alterar em nada por enquanto, os seus privilégios e preferências na cadeia de comando nem a expõe a qualquer risco.
Com todo esse tamanho, a população negra ainda é incipiente da força política por conta do racismo estrutural que cerceia os seus passos e a história tendo-a quase apagado, para uma grande reviravolta na grade socioeconômica, por exemplo.
Fomos encurralados no pejorativo “lugar do negro”, um espaço geográfico, marginalizado e estigmatizado, imaginado engenhosamente pela colonialidade em que a classe dominante reserva estivéssemos da senzala ao pós-abolição sem expectativas sociais e chance de ascensão invisibilizados mas reais, quando visto pela polícia. E sobrevivendo das migalhas que caíssem de suas mesas. Materializado na elevada desigualdade, pobreza, fome, favelização, periferização, baixa escolaridade, falta de oportunidades, de acesso à moradia, à saúde, à políticas públicas de toda natureza, frente ao poderio branco sempre como um colonizador, ignorando a situação.
Achar brechas, passagens, furar a bolha social e tirar-nos do buraco, a diversidade cultural e o antirracismo fazem quando nos igualam em importância e oportunidades surpreendendo à elite levando-nos à dignidade e a fazer parte de uma sociedade quando não fomos convidados e sob a elevada indignação dos demais presentes.
Nossa luta política e de fura-bolha teve início com o primeiro deputado negro e conselheiro de d. Pedro II Antônio Pereira Rebouças (1798-1880) pai dos irmãos construtores em Piracicaba (SP), da primeira ponte de concreto armado no Brasil no século XX. Retrato toda a história em meu livro esgotado “Mais que Vencedores Rebouças e convidados” de 1997.
O Enem 2023 discutindo o negro, o indígena, o agronegócio, as questões sociais e de gênero enfurecendo a classe dominante pelo desafio; a Expo e o Dia da Favela (4 nov.) marcando o dinamismo das comunidades outrora discriminadas hoje empreendedoras com a realização profissional nos mais diversos setores do mercado e da economia em meio a pequenos negócios com o apoio do Sebrae, tirando a colonialidade do lugar do negro; e o gigantismo da Central Única da Favela (CUFA) apontam o politicamente correto da diversidade cultural e do antirracismo na garantia do espaço e da visibilidade.
O que chamamos de diversidade cultural nada mais é cirurgicamente do que, ter a presença notada em meio a outros, mesmo que de forma indesejada e muito criticada até, do que antes invisibilizada.
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Noedi Monteiro, professor, ativista educanegro, mestre em Educação, diretor do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba), possui um acervo pessoal sobre a questão racial no Brasil e na América.