Para ser “Educativa”

Rai de Almeida

 

Nessa segunda, dia 6, durante a apresentação do jornal matinal “Notícias 105”, veiculado pela rádio pública municipal “Educativa FM 105,9”, o diretor dessa rádio – ao comentar uma matéria sobre a tragédia dos ataques criminosos de Israel a Gaza, matéria essa lida por sua companheira de bancada radiofônica – disse ele que: “infelizmente, o Egito proibiu ali a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e brasileiros que estavam ali aguardando também – já tem até um avião ali aguardando para trazer esse último grupo de brasileiros que não foi autorizado, é, foi fechado ali a saída para o Egito, da Faixa de Gaza para o Egito, e infelizmente isso talvez tenha a ver com apoio, apoio né, talvez, do governo brasileiro aí ao Hamas. E infelizmente a gente paga aí o preço por isso”.

Na mesma segunda-feira, à noite, durante sessão camarária ordinária, ocupei a Tribuna de nosso parlamento para trazer a público o equívoco dessas afirmações proferidas por ele. Afirmei, sim, que o diretor mentiu ao dizer que o governo federal apoia o Hamas. Isso não é verdade, reafirmo e repito. No mesmo sentido, apontei também o erro desse mesmo diretor ao informar à população que o Egito proibiu a saída dos brasileiros que estão em Gaza. Erro crasso e que revela desconhecimento acerca das questões geopolíticas e diplomáticas que transcorrem nessa região. Pior: ao dar informações imprecisas, o diretor desinforma a população, deseducando-a – fato que pode estimular ainda mais o radicalismo e o acirramento entre os que, distantes da guerra, se põem a defender (e mesmo a odiar) esse ou aquele grupo social.

No dia seguinte à minha manifestação pública, o referido diretor disse – em nova edição desse jornal – que “uma vereadora” fez duras críticas a ele sobre seu comentário. Nesse sentido, ao se defender publicamente, afirmou ele (e transcrevo aqui sua fala para que a questão fique mais clara): “o que eu disse é, talvez por falta de apoio, do não reconhecimento aí do Hamas como grupo terrorista, o Brasil não tá sendo incluído na lista. É a minha opinião. Não é informação. É possibilidade e eu opinei”. Ora! Que resposta lamentável! Como diz o ditado, a emenda saiu pior que o soneto.

Uma rápida leitura das falas do diretor da Rádio Educativa – cujos trechos fiz a questão de, propositalmente, transcrever aqui – revelam que a resposta dada a mim por ele diverge por completo da afirmação feita por ele mesmo anteriormente. Explico. Como o leitor pode notar, primeiro o diretor diz que os brasileiros não conseguem sair de Gaza por causa de um possível “apoio” do governo federal ao Hamas. Depois, na reposta, a narrativa muda de rumo e novamente o diretor mente ao afirmar que o que foi dito é que a questão se deve a uma “falta de apoio” e a um “possível não reconhecimento do Hamas como grupo terrorista”. Ou seja, a resposta dada a mim altera por completo a afirmação anterior feita publicamente para toda a cidade.

Para piorar ainda mais, a resposta do diretor da Educativa revela também desconhecimento da atividade jornalística – necessária a um diretor de uma rádio (especialmente de uma educativa). Ao afirmar não ter dado uma “notícia” e sim ter dado apenas “a sua opinião”, o diretor demonstra não conhecer com largueza os gêneros jornalísticos – cabendo destacar, dentre eles, nesse caso, o que se chama de “jornalismo informativo” e “jornalismo opinativo”. Ora. Um comentarista – seja quem for – de um jornal (televisivo ou radiofônico) quando “opina” não apenas opina, mas ao opinar automaticamente informa – e, mesmo, induz. (Parece incrível ter de explicar isso para quem dirige uma rádio educativa!). Ademais, e em um veículo de imprensa de credibilidade, não se pode meramente “opinar” a partir de preceitos próprios desconexos de bases concretas, como também não se pode opinar por meio de achismos ou do senso comum.

Por fim, a dura crítica que aqui se faz não deixa de reconhecer – é claro – que todos nós podemos cometer (e cometemos) equívocos – importando, é claro, saber reconhecê-los, aceitá-los e mesmo redimi-los quando necessário. Não há mal nisso. Afinal, reconhecer nossos erros e fraquezas a fim de buscarmos melhorar e progredir revela a nossa grandeza e a nossa disposição para fazer sempre o melhor. Por outro lado, é extremamente preocupante – e sou ouvinte da Educativa há muito tempo – perceber que esses “equívocos” são constantes, o que indicia a mim que podemos estar diante de uma postura tendenciosa. Ao que pese a dedicação sempre louvável e valorosa dos servidores e servidoras dessa rádio, fato é que a Educativa mudou (para pior) ao longo desses últimos anos. Uma pena. Perde a cultura. Perde a educação. Perde o ouvinte. Perde a cidade, mais uma vez.

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Rai de Almeida (PT) é vereadora

 

 

 

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