José Osmir Bertazzoni
Nestes tempos de “Indiana Jones caipira” percorrendo as trilhas de Piracicaba, lembramo-nos das aventuras do arqueólogo que tinha como missão de encontrar a Arca da Aliança, uma relíquia bíblica que guardava os Dez Mandamentos. Em sua jornada, Jones sabia que quem possuísse esse artefato se tornaria poderoso.
Então, por que a semelhança atual de Piracicaba com essas aventuras? Se explorarmos nossa cidade por poucas vias, percorrendo seus locais conhecidos, será fácil notar as semelhanças com essas aventuras. Ruas e avenidas estão cheias de crateras, árvores derrubadas ou arrancadas, e edifícios abandonados ou vandalizados. Estamos vivendo uma era de motosserras, e até mesmo figurativamente, há personagens que agem de forma destrutiva em busca desse “objeto de poder” precioso.
Na aventura idealizada por George Lucas e trazida ao estrelato por Steven Spielberg, o personagem principal era um professor e aventureiro destemido, conhecido por seu chapéu e chicote. No entanto, aqui em nossos rincões caipiras, o chicote e o professor são elementos que não se encaixam tão bem, há divergências.
Da ficção para a realidade, podemos observar como uma cidade se deteriora quando a vida humana a abandona. Essa deterioração não é apenas uma crítica ao poder público, mas também às pessoas que acumulam propriedades na área central. Quando retiramos a vida humana dessas áreas urbanas, elas começam a se deteriorar. Não é apenas o empreendedorismo que mantém a beleza das ruas e edifícios, as pessoas que habitam essas áreas desempenham um papel crucial na preservação.
Grandes centros urbanos, como o Vale do Anhangabaú em São Paulo e os centros antigos das cidades, precisam ser habitados, não podem ser dominados apenas por comércio e serviços. Quando o esvaziamento desses centros históricos ocorre, a vida enfraquece, e problemas emergem, transformando essas áreas em locais perigosos para aqueles que ainda se aventuram a percorrer esses escombros.
Uma cidade não pode existir sem a presença de vidas humanas. Não podemos aceitar o abandono dessas áreas por pessoas que já não se sentem seguras nelas. Essas áreas, por serem centrais, se tornam meros pontos de passagem para pessoas que não vivem lá, o que é prejudicial ao desenvolvimento urbano.
As cidades devem ser planejadas para evitar se tornarem armadilhas para seus habitantes, e esvaziar os centros é uma dessas armadilhas que não deixa muitas opções para suas vítimas.
A vida nas áreas centrais começa cedo, por volta das 5h da manhã, e termina por volta das 18h. Durante a noite e aos finais de semana e feriados, poucos estabelecimentos comerciais ou serviços abrem suas portas. Isso cria uma sensação de esvaziamento que incomoda aqueles que transitam na região e, ao mesmo tempo, atrai pessoas em busca de oportunidades para cometer atos ilícitos. O silêncio que reina nas áreas abandonadas é propício para a ocorrência de crimes e ocupações por aqueles que já perderam a fé em sua própria existência.
Para preservar nossa cidade, e nesse caso, escrevo como cidadão piracicabano, precisamos exigir que o Poder Público se preocupe em recolocar as pessoas e suas famílias no centro da cidade, como um jardineiro coloca flores em seus jardins para dar vida e beleza à sua obra. Posso ser um sonhador e até um nostálgico que muito andou por essas ruas e avenidas, sei que a beleza da Noiva da Colina não está somente nos prédios, nos montes e em seu horizonte, ela está também em nossas almas e, para que isso se preserve, sonhar é preciso e agir é imprescindível.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado