Diversidade cultural e antirracismo

Noedi Monteiro

 

Os caminhos que discorreremos em resumo falam de elementos de uma filosofia antirracista que propugna, uma visão descolonizadora a respeito das diferenças culturais no Brasil sem distinções ou privilégios.

A diversidade cultural de que vamos tratar já que o termo suscita diferentes abordagens e debates por ser amplo e complexo relaciona-se especificamente com a questão negra, indígena e suas especificidades. E, à reparação com práticas antirracistas, afirmativas, educativas e de ressignificação, para os povos afetados pelos danos histórico-culturais e morais causados pelo racismo colonial com células recrudescentes e de assentadas radicalidades na elite, política, religiosidade e conservadorismo brasileiro.

A referência à diversidade de que tratamos, não diz respeito à quantidade, volume, peso e medidas. Mas, à variedades culturais legitimamente constituídas, com o direito de inclusão na igualdade de oportunidades no país, promoção de afirmação e influência do legado afro-ameríndio brasileiro, do protagonismo e ocupação da espacialidade, da persuasão pela ascensão racial, étnica e econômica. De forma justa sem qualquer discriminação ou constrangimento.

Entendemos, portanto, a diversidade cultural neste caso, como uma filosofia antirracista pela semelhança de objetivos e de visão de mundo cujos papeis e dinâmica se confundem no intuito de romper, o processo de silenciamento, apagamento e invisibilidade culturais esvaziadas dos seus conteúdos indígenas e africanistas pelos privilégios do colonizador branco implantado pelos portugueses na colonialidade brasileira como civilizador. Na América Latino-Americana truculentamente por espanhóis que dizimaram os milenares incas, astecas e maias e as respectivas culturas.

A colonialidade consigna à cegueira político-cultural e de soberania dos próprios povos subjugados, à dominação de seus territórios com o seu poder de subverter perspectivas e olhares locais, à sua visão espoliadora e inescrupulosa, séculos. Além de infundir, os seus conhecimentos como absolutos e a cultura, língua, costumes e crenças estrangeiras, como modo de ver, insofismáveis. Aplicados quase como por encantamento no Brasil pelos portugueses tendo Goa como colônia na Índia, Macau e Timor-Leste no Sudeste Asiático, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Guine Equatorial, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe na África. No Brasil principalmente, as culturas enraizadas trazidas e agregadas às que os negros desenvolveram por aqui foram contestadas, inferiorizadas, e até demonizadas na cristianização segundo a colonização, com milhares de escravizados em suas senzalas, porões de igrejas, irmandades, conventos, confrarias, ordens, monastérios convictos religiosamente.

O antirracismo rebate os clichês contra raça, etnia, origem, procedência, nacionalidade, crenças, sexo, jocosidade, injúria, preconceito, estereótipos, agressões raciais e sociais verbais, virtuais, visuais, piadas, brincadeiras, o ódio e ofensas diversas ao negro.

A perspectiva decolonial grande aliada da diversidade cultural e do antirracismo, é contestadora! Remove com a ajuda da conscientização e pressão popular símbolos colonialistas e imperialistas de pedestais, mastros e monumentos espalhados pelo mundo. Enterrando conjunta e historicamente os pensamentos contemporâneos e os discursos de vitória.

O revisionismo histórico-cultural refaz os caminhos dos povos e de suas culturas assentando-os nos fundamentos pedagógicos e nos currículos escolares. Para sobreviver às reformas do ensino e ao aprimoramento da educação brasileira como forma de resistência.

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Noedi Monteiro, professor, ativista negro, mestre em Educação e diretor do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba)

 

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