Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho
Outro dia fiquei meio surpreso ao descobrir que ainda existe gente que leva “O Despertar dos Mágicos”, de Pauwels e Bergier, a sério, então achei que devia escrever algo a respeito. Não só pelo interesse arqueológico, mas também porque algumas descobertas recentes sobre as fontes dos dois autores franceses permitem rever o livro sob uma nova luz.
Para quem não estava por aqui quando os hippies caminhavam sobre a terra: “O Despertar dos Mágicos” foi um livro lançado na França em 1960, de autoria de Jacques Bergier e Louis Pauwels, que com o sucesso da obra lançariam depois a revista Planète, dedicada a assuntos esotéricos – e que chegou a ter uma edição brasileira.
Traduzido em várias línguas, “Despertar” inspirou gerações: Erich Von Däniken, o suíço que fez sucesso com suas lorotas sobre deuses astronautas, bebeu profundamente ali.
O livro é pouco lembrado hoje em dia, mas tem o mérito de lançar um ‘revival’ de interesse em ocultismo nos anos 60 e 70 que viria a culminar na mania de deuses astronautas da década de 70 ( lembra do livro Eram os Deuses Astronautas… tudo Charlatanismo) e na moda de falar com as plantas para ajudá-las a crescer,escreve o antropólogo americano Jason Colavito em sua análise da obra, que define como “parte tratado filosófico, parte catálogo de anomalias” e “compêndio de conspirações, erros de interpretação e mentiras …. que é fonte de pesquisa falsa para uma série de Estórias de um programa televisivo… que diz assim conforme os astronautas do passado, sendo um enorme jogo de cenas e palavras conotativas para entreter os incautos que tem curiosidades sobre o universo…
Colavito dedica boa parte de seu livro “The Cult of Alien Gods” – uma análise das origens e dos rumos do tema “deuses astronautas” na cultura popular – à obra de Bergier e Pauwels. Rastreia o trabalho dos franceses às fontes primárias, e conclui que, por trás das especulações de influência extraterrestre na história humana, há um autor específico: o ficcionista americano H.P. Lovecraft.
O antropólogo aponta que tanto Bergier quanto Pauwels eram fãs de Lovecraft: Bergier dizia ter se correspondido com o americano, na década de 30. Dois dos trabalhos mais famosos de Lovecraft, “O Chamado de Cthulhu” e “Nas Montanhas da Loucura”, tratam explicitamente da influência de seres de outros mundos no desenvolvimento da raça humana. Mas são histórias de terror e de ficção científica, não tratados arqueológicos.
Em um ensaio, Colavito cita um trecho do “Despertar” em que Lovecraft é mencionado como “o grande poeta e campeão da teoria dos universos paralelos”.
Dizer que um escritor que usa uma ideia em seus contos é um “campeão” da ideia trai uma certa confusão entre realidade e literatura. Em outro livro, Bergier diz acreditar na “clarividência dos autores visionários” – o que, para ele, talvez justificasse a mistura, um mosaico de conjuntos de crenças que chegou a enganar na época até intelectuais em fases do descuido do pensamento dentro do bom senso, da razão e da Ciência.
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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico