Pela defesa de nosso patrimônio cultural

Rai de Almeida

 

A luta pela conservação, preservação e manutenção de nosso patrimônio público – especialmente aquele pertencente à história de nossa cidade, à sua arte, cultura e identidade – vem se tornando cada dia mais importante e precisa contar urgentemente com a atenção e participação de cada cidadão e cidadã. Ao que pese ser essa uma luta já antiga, talvez nunca tenha sido tão importante defender, como agora, nosso patrimônio material e imaterial – especialmente o arquitetônico, objeto quase sempre de disputas e de interesses mercadológicos e imobiliários.

Desde o início de nosso mandato, estamos na luta pela manutenção e preservação desse patrimônio. Brigamos pela conservação e preservação do prédio da Pinacoteca Pública Municipal (cujo risco de virar sede da polícia federal foi imenso). De igual sorte, defendemos a preservação da Biblioteca Pública Municipal (ameaçada que foi de dar lugar a uma unidade de saúde). Estamos empenhados para que o campus Taquaral possa vir a ser um campus de uma universidade federal – e caminhamos juntos com aqueles e aquelas que, também desde o ano passado, lutam para não verem desaparecer a Escola de Música de Piracicaba – Maestro Ernst Mahle (Empem).

Diante desse quadro desastroso que ameaça a identidade, a memória, a história e a beleza de nossa cidade, temos nos manifestado publicamente, temos nos organizado junto à sociedade civil e temos – com muita ênfase – cobrado o poder Executivo e demais órgãos para que deem à cidade respostas imediatas a esse cenário terrível que ameaça nossa cultura e história. Assim, temos acompanhado também com espanto e incredulidade as respostas que o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac) tem dado a essas diversas situações.

Nesse sentido, cabe destacar que consideramos inadmissível a resposta dada pelo Codepac a ofício de nossa autoria e no qual solicitamos que o Conselho se posicionasse acerca das condições de conservação e preservação do patrimônio cultural que é o acervo da Pinacoteca – alocado precariamente em uma sala do Engenho Central há mais de um ano. A resposta do Codepac, registrada em ata, é que o acervo não é tombado e que – portanto – não cabe ao conselho responder por ele. Ora! Se o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural não defende o patrimônio artístico e cultural da Pinacoteca, quem o defende?

Na mesma trilha, segue em ritmo expressivamente moroso a apreciação pelo Codepac a solicitação de tombamento do prédio da Escola de Música de Piracicaba – processo esse que já fez aniversário nesse Conselho. No mês de agosto, soubemos que o Codepac havia finalmente aprovado o tombamento da Empem como patrimônio imaterial – mas a ata de tal aprovação só veio a público nesta semana, quase dois meses depois. Também, cumpre ainda dizer que nem mesmo o Executivo soube informar com exatidão e certeza que tal aprovação havia acontecido. Como informou a jornalista Beatriz Vicentini em sua página numa rede social, a Prefeitura noticiou ao site G1 – em setembro – que aguardava para outubro a ata do Codepac, na qual a aprovação desse tombamento se daria. No entanto, e como destaca a jornalista, o tombamento imaterial da Empem já havia acontecido em agosto e consta registrado em ata desse conselho do mês setembro. O que dizer? Que confusão! (E seguem ainda sem resposta ou apreciação o tombamento do prédio da Escola e de seu acervo).

Por fim, no início deste mês, foi a cidade novamente surpreendida pela aprovação dada pelo Codepac para a demolição de prédios da antiga fábrica Boyes – enraizada no coração cultural da cidade, à beira do Piracicaba – para que ali (condenando a paisagem histórica, a estética local, a natureza e a nossa identidade) sejam construídas torres de edifícios de apartamentos. Que triste cidade! Pobre Rua do Porto, condenada que estará a ser – em breve e se nada de efetivo for feito – uma fatal “nova Camboriú” (onde o poder imobiliário faz crescer os prédios a sucumbir a natureza e a história).

Diante desse quadro tétrico, parece que também estamos sem quem – de fato – tenha por ofício defender com afinco nosso patrimônio cultural. Por assim ser, não podemos nos afastar dessa luta. Precisamos que a sociedade civil se organize e cobre das autoridades locais que não mais permitam que aniquilem a nossa história, o nosso patrimônio. Sem o apoio da sociedade e sua participação efetiva na defesa de nosso patrimônio, em pouco tempo pouco sobrará daquilo que historicamente nos constitui. Mais uma vez, é hora de estarmos juntos e juntas.

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Rai de Almeida (PT) é vereadora em Piracicaba

 

 

 

 

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