Ainda sobre hotéis e hoteleiros

Edson Rontani Júnior

 

Hotéis em Piracicaba sempre movimentaram a sociedade. Foram ponto de chegada e partida de muita gente, além de referência à gastronomia na cidade. Cabe olhar ao passado para conhecer a história deste ramo do comércio.

O Hotel Marques foi inaugurado em 1º de agosto de 1883. Era de propriedade de José Gomes Marques nascido em Portugal (São João de Covas), sogro de Octávio Teixeira Mendes. Era de sua propriedade o Restaurante do Marques inaugurado em fevereiro do mesmo ano.

Situado em frente a Estação Sorocabana, o Hotel e Restaurante Moretti recepcionava aqueles que vinham de outras cidades através desta estrada férrea. Estava situado à rua Rangel Pestana com a rua Benjamin Constant (na época, à rua da Glória nº. 6). O restaurante era especializado em jantares para batizados e casamentos com preços módicos, segundo publicidade veiculada no Almanak de Piracicaba para 1914, de Roberto Capri. Tinha estoque de bons vinhos. Tanto Marques quanto Moretti trabalharam na área financeira da Boyes, em épocas distintas.

Já no início do século passado, a cidade contava com três hotéis, sendo eles o Central, do Lago e um hotel administrado por Bento de Campos. Nos anos 1930, Ângelo Baruzzi administrou o Hotel dos Viajantes, situado à rua João Pessoa nº 184 (antes rua do Commércio e hoje Governador Pedro de Toledo), junto ao largo do Mercado. Houve outro administrador hoteleiro, Bento de Campos, proprietário de um hotel na rua XV, no início do século passado.

Manoel do Lago foi proprietário do Hotel do Lago, este situado no Largo do Teatro Santo Estêvão, precisamente esquina da praça José Bonifácio com a rua São José (onde está o Poupatempo Estadual – Samuel Pfromm Cita cita em “Dicionário de Piracicabanos” anúncio como sendo seu endereço na rua Moraes Barros nº. 161). O Lago tinha um restaurante considerado “a melhor casa de petisqueiras da cidade”, segundo anúncio veiculado no Almanak de Piracicaba de 1914. Lago foi vice-presidente da Sociedade Espanhola local quando esta entidade foi fundada em junho de 1898.

“Asseio rigoroso com pessoal habilitado para o serviço”, assim descrevia publicidade de 1914 do Hotel Bela Vista, propriedade de Barbarini e Bardi, situado na rua do Commércio nº 79 (atual rua Governador).

Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (senador Vergueiro, também ministro no Império do Rei Dom João) veio a Piracicaba em 1807. Residiu em casa situada na então rua Moraes Barros com o Largo Central, que décadas depois deu espaço ao Hotel Central. Foi ele quem planejou o arruamento de Piracicaba, executado por José Caetano Rosa (o Alferes José Caetano), quando em 1808 a cidade tinha cinco ruas, travessas, pátio para igreja e largo para a cadeia. Esta casa funcionou como “Casa da Aposentadoria” uma espécie de ouvidoria do município, onde as reclamações eram relatadas e encaminhadas ao legislativo. Foi nesta casa que ocorreram as primeiras eleições da cidade, no dia 10 de agosto de 1822.

João Baptista de Castro foi proprietário do Grande Hotel Central, este inaugurado em 1894 (19 de maio). Outras fontes indicam que sua inauguração ocorreu dois anos antes (13 de abril de 1892). O Hotel situava-se no Largo da Matriz nº 5, onde encontra-se hoje o Oxxo, ao lado da Catedral. Pfromm Neto diz que Baptista era chamado de Castrinho e Janjão. Inicialmente criou o Restaurante do Janjão, depois adaptado para o Hotel Central. O Almanak de Piracicaba o descrevia como “um dos melhores do estado”. Aliás, o autor do afamado Almanak de 1900, Camargo, residiu com sua família no Central durante elaboração deste. Dizia que o espaço tinha quartos claros, arejados e com preços razoáveis. O Central foi administrado depois pela esposa e filhos, quando Baptista faleceu.

Hotéis também serviram de localização para prestação de serviços. Francisco Simões da Costa era médico e atuou na cidade de 1922 e 1926 realizando consultas no Hotel Central. Atendia crianças e senhoras. Montou consultório na praça José Bonifácio e atuou na Santa Casa, deixando a cidade para atender em Batatais.

Orlando Carneiro foi professor da ESALQ ao longo de 32 anos. Coordenou a reforma do Hotel Central. Este, possuía um pavimento, sendo reformado e ampliado para dois pavimentos.

Attilio Romano Giannetti foi o último proprietário do Hotel Central, na praça José Bonifácio, ao lado da Matriz de Santo Antonio. Também foi proprietário do Restaurante Brasserie situado próximo, vendido por ele à família Pedreira em 1954. Attilio foi o responsável pela primeira linha de transporte coletivo de Piracicaba para a capital paulista, em 1932, com nove veículos disponíveis. Cada um levava cinco passageiros numa jornada que levava seis horas para realizar o trajeto.

Uma jornada ao passado que o tempo não pode apagar.

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Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

 

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