Douglas Yugi Koga
Quando me foi dada a oportunidade de escrever este artigo, pensei em desabafar todas as minhas frustrações perante o imenso desafio de comandar uma das pastas mais sensíveis de uma prefeitura: a da saúde. Desde querer comprar medicamentos e não aparecer nenhuma empresa para vender, dificuldade de contratação de mão de obra especializada, falta de exames e limitação no uso de recursos, para citar apenas alguns exemplos das adversidades que enfrentamos por aqui.
Porém, queria aproveitar melhor este espaço, pois já fiz algumas entrevistas em que falo sobre essas dificuldades e também para explicar alguns projetos que já vinham em andamento e outros que dei início. Hoje queria falar sobre os profissionais de saúde da nossa rede municipal de saúde que tive contato mais próximo neste período. Somos mais de 2.200 profissionais nas mais de 120 unidades. Todas essas pessoas que fazem o sistema de saúde respirar e viver. São pessoas que atuam na higienização das unidades, no transporte de pacientes, no resgate de acidentados, na vacinação de finais de semana, na manutenção de urgência de computadores em feriados, na burocracia infinita e finalmente no atendimento dos pacientes piracicabanos e de cidades na nossa região.
As pessoas que estão no dia a dia comigo na administração direta têm suas famílias em casa, mas também tem a sua família no trabalho e chegam em suas mesas e executam suas tarefas de forma incansável. O volume de documentos é algo assustador. O setor de comunicação está de dia e noite e finais de semana ativamente trabalhando. O jurídico, então, nem se fala. Mas noto o comprometimento e entusiasmo de todos quando vencemos algum desafio e, o seu desespero, quando percebemos que haverá dificuldades para os pacientes por qualquer entrave burocrático.
Nas coordenações que são compostas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, funcionários administrativos entre outros, são pessoas que estão literalmente se doando, sendo responsabilizadas pelas suas decisões mas que não tem recompensa financeira proporcional por estarem nessa posição (apesar de que isso é algo que já estamos revendo). Sempre batalhando, lutando por recursos e realmente estão lá pela paixão e pela fé que tem no SUS. Querem mesmo vê-lo funcionando, enfrentando muitas vezes adversidades que fariam muitos desistir.
As visitas que venho fazendo nas unidades de saúde também me mostraram o quão são dedicados. Nem sempre o poder público consegue oferecer o melhor computador, a melhor cadeira ou a melhor mesa (licitações por preço às vezes deixa a qualidade em segundo plano). Algumas unidades precisam de reformas ou veículos e adequações, mas vejo os servidores dando seu melhor para que o atendimento não pare, seja nos dias normais ou de madrugada. Às vezes existem estagiários na unidade esperando professor e são confundidos com funcionários e geram reclamações por “estarem lá parados”. Esperamos melhorar nossa comunicação para as pessoas entenderem melhor o papel do SUS na formação de novos profissionais.
E jamais poderíamos esquecer de quem faz tudo funcionar. Aqueles que estão atuando para manter os prédios vivos, os carros andando e os computadores ligados. As equipes de manutenção, transporte e zeladoria que não têm um dia que possam dizer que foi tranquilo!
Claro que nem sempre tudo funciona de forma perfeita, humanos que somos, erramos, falhamos, choramos e também nos frustramos, mas sempre digo onde vou que é na saúde que as pessoas têm vocação na arte de cuidar de pessoas. E são esses servidores que quero homenagear hoje e dedico esforço para que tenham melhores condições de trabalho, pois se eles estiverem bem, os pacientes estarão bem também.
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Douglas Yugi Koga, médico, é secretário municipal de Saúde