A situação do transporte púbico em Piracicaba

Adelino Francisco de Oliveira

 

Tenho retomado o hábito de me locomover por meio do transporte coletivo. Quando era jovem, lá na cidade de São Paulo, sempre utilizei o ônibus para acessar os lugares da cidade. Nesses últimos tempos tenho voltado a caminhar e também a pegar ônibus para ir e voltar do Instituto Federal. Deixar o carro de lado, na garagem e pegar o transporte público tem sido uma experiência bem interessante, que recoloca muitas reflexões sobre os limites e as possibilidades da mobilidade urbana e do direito à cidade.

Engraçado é que os jovens alunos ao me encontrarem no ônibus, normalmente ao término de um período de aulas, indagam se estou fazendo algum experimento social. Reina a cultura do carro! Há uma mentalidade generalizada de que apenas os mais pobres utilizam transporte público. Talvez seja também por isso que o setor é tão abandonado. Outro dia me deparei com quase uma classe inteira dentro do ônibus. Provoquei dizendo que poderíamos estender ali os debates da aula que tinha recém terminado.

Para a classe trabalhadora a locomoção via transporte público não é uma opção. É o único meio para se chegar ao trabalho e, após pesada jornada, retornar para casa. Os jovens alunos enfrentam os ônibus cheios, ora para irem para o trabalho; ora para chegarem no Instituto, vislumbrando uma tarde de muitas aulas; ora para retornarem, já bem cansados, para suas casas. O percurso em um ônibus cheio, com trânsito pesado, pode ser uma experiência bem exaustiva. Pegar o ônibus é sempre uma correria. Passei a entender a pressa dos jovens para chegarem ao ponto. Perder o ônibus significa as vezes atrasar mais de uma hora para um determinado compromisso.

Circular pela cidade utilizando o ônibus remete a uma realidade difícil e bem desgastante. Um cenário que não foi alterado e só se agravou nos últimos 20 anos, com o significativo aumento da população. Uma cidade tão vasta e pujante como Piracicaba não pode reproduzir uma lógica tão atrasada e até obsoleta no setor do transporte público. Investir em transporte coletivo, criando uma rede de mobilidade urbana eficiente, integrando várias modalidades de transporte, com inovação tecnológica, baixo custo, segurança, conforto e sustentabilidade ambiental, consiste em fortalecer o princípio de cidadania.

Outro dia, no próprio ônibus, fizemos uma espécie de aula pública aberta, debatendo com os passageiros as alternativas para um transporte coletivo que reconheça a dignidade dos usuários. Retomando a história do transporte em Piracicaba, ressaltou-se a importância da criação do Terminal Central, integrando todos os bairros da cidade. Era o tempo auspicioso do governo democrático do professor José Machado. A pasta da Secretaria Municipal de Transportes era ocupada pelo entusiasta do transporte urbano Eduardo Giannetti. O TCI representou uma verdadeira revolução no transporte público municipal, possibilitando com que a população acessasse todos os recantos da cidade com uma única passagem, gerando economia de tempo e também de dinheiro. Tratava-se de uma relevante e ousada política pública.

Acessar a cidade é um direito. O transporte coletivo é o meio mais democrático para que as pessoas cheguem, com plena dignidade, a todos os lugares que desejarem. É uma forma de criar sociabilidade, encontros, uso coletivo dos espaços públicos, sentimento de pertença, acessibilidade, integração, diálogo e oportunidade. Nesta perspectiva, pensa-se uma cidade inteligente, sustentável, acolhedora, plural e inspiradora. É justamente esse salto de concepção democrática que a cidade de Piracicaba precisa agora dar no setor de transporte público.

 

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Adelino Francisco de Oliveira, professor do Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião;

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