Política sem sabedoria é ação pífia

José Osmir Bertazzoni

 

As gestões públicas no Brasil têm enfrentado muitos desafios devido às escolhas ruins na forma de se conduzir a política. Por essa razão, o povo, muitas vezes, deixa-se convencer por propostas absurdas que se alcunham como a “nova política” e desconstroem todas as outras correntes importantes existentes no país. Além disso, há uma forte proximidade entre religião e política, criando uma construção sombria da espiritualidade invocativa do ódio, frequentemente usando o nome de Deus, Pátria e Família para criar uma falsa impressão de conservadorismo, frequentemente acompanhado da hipocrisia.

Platão acreditava que o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Segundo seu pensamento, os governantes deveriam ser definidos pela sabedoria. A necessidade de selecionar as pessoas certas com a formação adequada para qualquer atividade humana é fundamental e segue os princípios das ciências. Na política, ao estimular o pensamento platônico, não poderia ser diferente.

Essa lógica é simples: para exercer a advocacia, é necessário ter formação em ciências jurídicas; na medicina, é necessário conhecer as ciências médicas, e assim por diante. Em cada atividade humana, é essencial ter notório saber, o que também se aplica ao governo.

No que diz respeito à legislação, a experiência mostra que os legisladores comuns são mais eficientes. Isso se traduz da seguinte forma: os legisladores comuns criam as leis, os técnicos as executam, e os jurisconsultos interpretam as normas legislativas.

Não há muitos segredos para que a sociedade possa evoluir além das barreiras. Muitos países se desenvolveram convivendo com as religiões, mas o Estado deve ser laico, mesmo que o povo seja devoto.

Quando refletimos sobre isso, é importante perceber que o pensamento político no Ocidente surgiu em meio à reflexão religiosa. Embora Platão não tenha focado principalmente na religião – seu principal interesse estava nas questões políticas aplicáveis a Atenas -, ele foi o pioneiro em combinar o pensamento político com o pensamento religioso em um sistema de ideias, um modelo que durou milênios na história ocidental. Mesmo na era da laicidade, essa influência continua a moldar a mentalidade dos políticos. Isso demonstra que questões de fé e espiritualidade fazem parte da essência dos seres humanos e, portanto, devem ser consideradas no estudo da política social. O que não pode ocorrer, pois é prejudicial à sociedade, é o fanatismo religioso e a cegueira política que impede as pessoas de sair de suas próprias bolhas e analisar todas as formas de governo e Estado, especialmente a democracia, como a corrente mais sólida de desenvolvimento civilizatório humano.

No brilhante pensamento de Jean-Jacques Rousseau, encontramos enigmas como este: “São a força e a liberdade que fazem os homens virtuosos. A fraqueza e a escravidão nunca fizeram nada além de pessoas más. O povo, por si só, sempre deseja o bem, mas nem sempre o reconhece por si só”. Com essa reflexão, Rousseau identifica a virtude como resultado da liberdade e a fraqueza como precursora da escravidão. Ele entende que o povo é inerentemente bom, mas nem sempre consegue discernir entre aqueles que conduzem à liberdade e aqueles que os levam à escravidão.

Em conclusão, na minha opinião, as pessoas que elegeram prefeitos e vereadores nas últimas eleições foram influenciadas pelo ódio e não conseguiram distinguir entre os agentes mal-intencionados e os bem-intencionados. O resultado disso é a devastação das estruturas sociais das cidades e o atrofiamento do processo civilizatório e democrático; em governos passados ocorreram erros, mas nada equiparado com os nossos dias. Vivenciamos tantas luzes iluminando essas ribaltas de ódio.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado

 

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