José Renato Nalini
A liberação de agrotóxicos neste 2023 que se anunciou como era de prestígio ecológico, é idêntica à do governo anterior. Ou seja: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento já liberou 231 produtos, alguns dos quais considerados “altamente tóxicos” para a saúde humana e dois tachados de “altamente perigosos” pelos órgãos competentes.
Preocupa e surpreende os que aguardavam retorno ao estágio anterior ao de “Pária Ambiental”, quando o Brasil era uma promissora esperança verde. Um dos maiores problemas tupiniquins é, justamente, o uso da retórica para agradar um setor e a prática nefasta a fazer o contrário.
Tudo indica existir um confronto no governo de coalizão que acaba por se converter em governo de colisão. Para agradar os quase quarenta partidos em luta para empolgar o poder e para ficar com os recursos do Erário, nomeiam-se políticos sem qualquer vínculo com a linha governamental propalada. A queda de braço faz com que o econômico sempre leve a vantagem. Assim, entre a tutela ecológica protagonizada pela Ministra Marina Silva e o peso do agronegócio, este leva evidente vantagem.
Em nome do aumento da produtividade do campo, o “celeiro do mundo” vai continuar a envenenar a alimentação. O crescente número de agrotóxicos implica em risco grave para a saúde. Embora a Universidade pudesse oferecer herbicidas naturais, desenvolvidos após exaustivas pesquisas levada a efeito por cientistas pouco incentivados, mas verdadeiros heróis, alguns integrantes do “ogronegócio” preferem ficar com os pesticidas tradicionais.
Pouco importa que boa parte dos agrotóxicos que o Brasil inocula na produção da lavoura já é proibida na União Europeia. A esperança é de que o Velho Continente faça valer a normatividade recentemente editada e não compre produtos brasileiros contaminados. Mas há quem acredite que isso não causará efeito dissuasório nos que defendem “quanto mais veneno melhor”, porque a Europa é mercado de pouca importância, considerados os parceiros asiáticos.
A propalada volta à ecologia consciente e à produção sustentável de alimentos é uma fala para o mundo civilizado se convencer de que o Brasil se converteu à racionalidade. Mas o que importa é obter mais safras, exportar mais, trazer mais lucro para os agronegociantes. A saúde de quem vai consumir esses produtos não é assunto que interesse à maior parte dos empresários.
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José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras