Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho
Ancestral do Homo sapiens quase foi extinto há 900 mil anos.
Ao longo dos 3,6 bilhões de anos desde o surgimento da vida na Terra, o planeta passou por cinco grandes extinções em massa (possivelmente, estamos agora na sexta). Há um sem-fim de espécies, então, que já não estão mais aqui para contar história. E, por pouco, nós não nos juntamos a esse clube.
É o que sugere um novo estudo, publicado na última semana na revista Science. Em uma análise genética, pesquisadores sugerem que um evento de gargalo, ocorrido há mais ou menos 900 mil anos, quase levou os ancestrais do Homo sapiens à completa extinção.
Um efeito gargalo acontece quando algum fator reduz drasticamente o tamanho de uma população. Podem rolar por causas naturais, como terremotos, secas e outros tipos de desastres – mas também podem graças ao próprio homem, como nos vários episódios da caça indiscriminada de animais durante os últimos séculos.
Esse tipo de evento pode levar a algo conhecido como deriva genética. Ao contrário da seleção natural, em que as características do indivíduo que são selecionadas são aquelas que melhor se adaptam ao ambiente, na deriva genética os genes são passados para a geração seguinte de forma completamente aleatória. Isso, aliado a um pequeno número de indivíduos, resulta em populações com baixa variabilidade genética.
A pesquisa indicou que algum fator, como talvez mudanças ambientais, levou à extinção de aproximadamente 98.7% dos ancestrais humanos. Segundo os cálculos, de um total de mais ou menos 100 mil hominídeos, todo o futuro de nossa espécie ficou nos ombros de 1.280 indivíduos.
O evento que pode ter levado a esse cenário ainda é desconhecido. Entretanto, o Pleistoceno, época em que o possível ancestral humano viveu, foi, digamos, turbulento, com uma glaciação que atingiu todo o globo. Esse mesmo período coincide com o aparecimento do ancestral comum das três principais espécies de hominídeos: os nossos primos neandertais e denisovanos.
Os dados indicam ainda que os nossos ancestrais, mesmo em pequena quantidade, conseguiram sobreviver por um longo período de tempo. Eles seguraram as pontas por mais ou menos 117 mil anos, até finalmente conseguirem se recuperar. É nesse período que os autores acreditam ter surgido o ancestral comum de nossa espécie. Isso corrobora com alguns estudos que indicam que esse ancestral teria vivido entre 500 e 700 mil anos atrás.
Para os autores do estudo, além das descobertas indicarem que o gargalo levou a população humana ancestral à beira da extinção, as consequências disso podem ser observadas na diversidade genética humana atual. Mesmo com 8 bilhões de habitantes na Terra, a nossa variabilidade genética é baixa, e essa pode ser uma das respostas.
Em estudos de populações humanas como essa, a análise genética precisa ser realizada juntamente com outras evidências arqueológicas e fósseis. Uma pesquisa em sítios humanos antigos na África e Eurásia que datam desse período podem ajudar a corroborar a teoria dessa quase extinção dos hominídeos ou seja nossos ancestrais.
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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico