Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho
Continuo a considerar Nietzsche como um dos maiores psicólogos de todos os tempos, embora a filosofia se tivesse apropriado dele e o “venda” como filósofo.
Este autor apresenta uma competência de análise metafórica que promove, continuamente, a análise clinica interpretativa da conduta humana. Não se fundamenta numa base de investigação cientifica conteana, mas utiliza a semântica do seu discurso, com um suficiente nível de objetividade, para analisar as profundidades do comportamento humano.
Nele não há confusão com a terapêutica freudiana. Freud explora o impulso reprimido, em função de uma moral sexual conservadora do sec.XIX; Nietzsche não faz isso, utiliza, sim, a metáfora, não numa perspectiva narrativa, mas, sim, situacional; promove, assim, a compreensão da conduta humana. É o que está presente nesta expressão: “se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você”? O abismo também olha para dentro porque a pessoa ao olhar para o abismo elabora uma percepção que conduz à sua ruína, à sua incapacidade, à sua morte, ao seu suicido.
Esta referência metafórica permite-nos compreender a tragédia da depressão, a envolvência que a pessoa faz nela, ao criar o seu próprio abismo nas percepções que produz sobre si próprio e que alimentam a sua própria depressão. Esta é aqui o abismo que devora o individuo que está dominado pelo olhar sobre o abismo, a depressão, que se constitui como a percepção, ou percepções, que o individuo alimenta e produz na sua situação de depressão.
Fiz referência à depressão, mas poderíamos localizar a expressão de Nietzche noutras figuras comportamentais, nas quais se identifica a génese perceptiva que vai “imolar o próprio individuo”.
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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico.